Algumas vezes o Universo resolve testar
a sua resiliência, e foi isso que aconteceu comigo no ano de 2003.
Eu terminei o último post dizendo que ao chegar em casa, minha mãe
só me apoiou. Mas apesar disso, foi uma noite extremamente mal
dormida. Eu simplesmente não consegui assimilar a expulsão.
Mas eu não ia sair sem lutar. Entramos
em contato com a Solanger, tia do Bruno, para vermos como seria para
entrarmos na justiça. Eu liguei para muitos tinham sido também
“licenciados a bem da disciplina”. Os que quiseram participar da
empreitada foram: Máximo, Jurandir e o Rodrigo. Engraçado que o
último já estava conformado com a situação mas, por alguma razão,
ele mudou de ideia e quis entrar também na briga, para minha sorte.
Contamos à advogada o ocorrido e eu
tinha certeza que a justiça seria feita. Dois alunos da turma 99, um
deles o Ericsson, tinham conseguido reverter suas expulsões por
conta de trote violentos um ano antes, e isso nos dava confiança.
Afinal, se nem trote era o que tinha nos expulsado, lógico que
conseguiríamos reverter a situação. Apesar disso, precisávamos de
um plano B.
Foi então que o Jurandir sugeriu
fazermos cursinho para escolas militares. Ele tinha comentado que na
Tijuca havia pelo menos 4 deles: Planck, Roquette, Ponto de Ensino e
PH. Durante o Naval eu tinha pensado em fazer engenharia, então
achei uma boa, já que os cursos preparavam para IME e ITA. O
problema é que eu não tinha dinheiro para pagar os cursos.
Não bastasse isso, durante aquela
semana eu descobriria que também não teria onde morar. Durante o
ano de 2002 eu estava indo tanto para a casa da minha tia que passei
a ajudar no aluguel. Como não podia mais colaborar no fim mês,
seria impossível continuar na minha tia. Foi difícil não poder
contar nem com a família num momento delicado.
Mas então começamos a procurar os
cursos e fazer provas de bolsa. Conseguíamos no máximo 20% de
desconto. Quando íamos conversar sobre a mensalidade e falavam do
desconto, eu perguntava quando daria a mensalidade: “Vai ficar
apenas R$ 600,00”. Eu fazia sempre o mesmo discurso depois dessa
notícia: “Eu fui aluno do Colégio Nava, era o 24o da
minha turma. Portanto, vou passar nos concursos, independente de qual
seja. Só que ainda não tenho nem lugar para morar no RJ, então não
consigo pagar esse valor, o que é possível de se fazer?”. Aí eu
sempre ganhava um “super desconto” de 30% ao qual eu sempre ria e
falava: “Acho que você pensa que estou brincando quando digo que
não tenho nem lugar para morar”.
Mas enfim, ficamos indo e voltando em
cada curso tentando descontos maiores. Nesse processo, acabamos
encontrando o Haikal, que desde o terceiro ano de CN já tinha
decidido fazer IME/ITA. Ele conseguiu uma boa promoção no Ponto de
Ensino (PEnsi): ex-alunos do CN pagariam a matrícula e teriam 90% de
desconto na mensalidade. Mesmo aquele valor de R$ 60,00 eu não sabia
como iria pagar, mas pensei que isso seria o máximo que
conseguiríamos. Aquilo foi uma festa. Teve gente que nem era do CN,
tinha apenas feito curso Martins com a galera em 99, mas mesmo assim
conseguiram também o desconto. Enfim, acho que o PEnsi ainda estava
em seu início e devia ainda ter muita vaga ociosa.
Nessa época de negociações eu me
aproximei bastante do Rodrigo. Como ele morara longe e eu tinha
carro, a gente sempre ia junto procurar pelo curso. Então começamos
a frequentar juntos o PEnsi e por conta disso, eu estava dormindo na
casa dele. Minha mãe também estava dormindo lá, mas já estava
procurando um emprego de doméstica onde dormisse no emprego e,
assim, pudesse pagar o meu curso. Vê-la tendo que fazer isso naquele
período da vida foi uma barra.
Mas então na quarta-feira recebemos
uma ligação da Denise, dona do Roquette. Ela falou que tinha
conseguido uma bolsa. Perguntei quanto ficaria, ela respondeu R$
100,00. Nós tínhamos assistido a uma aula do Roquette, justo a de
química do Cesar Pereira e, por conta disso, achávamos que o
Roquette era melhor. Mas enfim, o PEnsi estava mais barato. Eu
respondi que passaríamos lá no dia seguinte para conversar.
Me lembro que o Rodrigo não queria nem
ir no Roquette. Mas eu insisti. Disse que a Denise tinha sido muito
legal e atenciosa com a gente, então ela merecia uma satisfação.
Na hora do almoço, fomos ao Roquette. Ainda no caminho lembro de
conversarmos, em tom de piada: “Já pensou se a gente conseguisse
100% de bolsa no Roquette?” e demos risada. Mas ao chegarmos, a
Denise foi direto ao ponto: “Olá meninos, eu tenho uma super
oportunidade, vocês poderão estudar no Roquette sem pagar”.
Estávamos meio ressabiados com as merdas que tinham ocorrido, então
eu falei “100%? não vamos pargar nada? Sem taxa de material, sem
mensalidade, nada?”. Ela respondeu positivamente. Mesmo assim,
falamos que iríamos pensar, afinal, já estávamos no outro curso.
De noite nos reunimos e conversarmos
com nossos pais. A minha mãe e a do Rodrigo apenas falaram para
escolhermos o que achássemos melhor, enquanto o pai dele, o seu
Gama, achava melhor continuarmos onde estávamos. Nós queríamos ir
para o Roquette, mas achávamos sacanagem sair do PEnsi depois de
iniciar as aulas. Mas, no fim, não tínhamos assinado nenhum
contrato, então acabamos indo para o Roquette. No outro dia já
trocamos de curso. Chamamos o pessoal que estava no PEnsi, mas ele
preferiram não mudar.
O fato engraçado que fiquei sabendo um
tempo depois é que a Denise tem um filho da Marinha que estudou
junto com o então Tenente Anselmo, a quem ela conhecia pessoalmente
pois os dois eram amigos. Então ela perguntou a ele sobre nós e ele
passou nossa “ficha suja”. Ela disse que no contrato que fez com
a gente, poderia nos tirar do curso se tivesse qualquer problema
disciplinar. Depois de uns seis meses ela conversou de novo com o
Anselmo e disse “Anselmo, tem certeza que o Renzo e o Rodrigo era
de quem você tinha falado? Os dois estão super bem no curso, nunca
deram qualquer problema, realmente não parecem nem de longe os
demônios que você falou”. Ele só respondeu: “Vai confiando na
carinha de santo deles.”
De toda maneira, pelo menos alguma
coisa deu certo nesse período. Mas não foi só isso. Sabendo da
nossa situação, a Sandra, mãe do Rodrigo, me chamou para
conversar: “Renzo, você vai morar aqui em casa. Mas eu não estou
te fazendo nenhum favor, eu sou pragmática. Você vai morar aqui
para ajudar o Rodrigo no estudos”. Novamente, depois do Major
Romão, pessoas que eu mal conheciam estendiam a mão para me ajudar.
Sou muito grato a todos: Roquette, Denise, Sandra e Seu Gama.
Então estava resolvido o plano B, eu
moraria na casa do Rodrigo e estudaria no Roquette. Mas paralelo a
isso, o processo contra a Marinha seguia. E isso fazia com que não
focássemos 100% nos estudos. Em janeiro, tivemos quer ir no CN para
pegarmos alguns documentos, principalmente nosso diploma de segundo
grau, que seria necessário nos vestibulares. A ideia era também
conseguir o Regimento Interno (RI), para podermos pautar melhor nosso
processo. Então fomos eu, Rodrigo, Sandra e minha mãe para Angra
dos Reis.
Ao chegar lá, o Tenente Serafim nos
recebeu em sua sala. Eu falei para ele que precisava de um exemplar
do RI do CN, mas ele disse que não poderia nos dar um. Eu pedi então
que me emprestasse para tirar xerox dentro da unidade mesmo, ao que
ele também respondeu negativamente. Mas então ele saiu da sala, e
tinha um RI sobre a mesa. Ficamos na dúvida se ele tinha deixado ali
de propósito ou não. O fato é que eu peguei o RI e minha mãe
colocou na bolsa. Ela tremia igual vara verde, então eu falei para
sairmos e deixarmos o RI no carro (Serafim: depois me manda uma msg
se você deixou esse RI lá de propósito ou se você sequer deu
falta dele....rs).
Com o documento em mãos, demos
continuidade ao processo. Com ele, vários elementos do Conselho de
Ensino foram questionados, principalmente no que dizia respeito ao
direito de ampla defesa. Dentre as ações que tomamos, uma delas foi
pedir a ata da reunião da votação dos oficiais. Foi interessante
ter acesso a esse documento.
A ata descrevia que no início do
reunião, cada oficial falava sua opinião sobre o aluno. Só depois
de ouvir todas, eles votavam. Todos que foram “absolvidos”
estavam nessa primeira leva. Mas a partir de um certo momento,
mudaram o procedimento: o oficial falava o que pensava do aluno e
depois já votava, sem ouvir as opiniões dos demais. Mas o que
intrigou a todos foi ver o resultado da votação. Em favor de minha
permanência, votaram apenas o Serafim e o Lincolm. Engraçado é que
eu não tinha muito contato com o último.
Mas o fato mais intrigante foi saber
que o médico Oscar Passos votou contra praticamente todo mundo. Isso
porque logo depois da votação, ele tinha falado que achava uma
injustiça o que tinha ocorrido e que deveríamos colocar na justiça.
Mais do que isso, tinha dito que tinha votado em favor de todo mundo.
Eu até hoje não sei a razão disso. Isso porque eu já tinha tido
contato com ele, como escrevi em outros posts, e me parecia um cara
bacana. Mas mais do que isso, eu acredito em toda filha da putagem no
mundo, mas em geral, a “judaria” vem acompanhada de algum ganho
pessoal. E nesse caso, o Oscar não tinha nada a ganhar mentindo pra
gente. Eu só enxergo duas explicações lógicas para isso:
- O documento que tivemos acesso foi forjado, tendo sido alguns oficiais obrigados via assédio moral ou ameaças a assiná-lo.
- Realmente o Oscar Passos era o maior duas caras que eu já vi na minha vida. Nesse segundo caso, isso o tornaria pior que o Calcinha, pois esse pelo menos deixava claro o curso de suas ações. Se um dia o Oscar ler esse post, eu gostaria de conversar, por conta da curiosidade, para saber o que houve.
Outras coisas interessantes ocorreram.
O Tenente Anselmo disse na reunião que eu era conhecido por dar
trotes nos alunos, e que por isso não deveria ir para EN. Enfim,
depois de ler esse documento eu fiquei muito puto. Escrevi uma carta
com umas 20 páginas contestando todos os pontos que li na ata. Por
exemplo, nesse do Anselmo eu contestei, mencionando o RI, que se ele
sabia que eu dava trote e não fez nada, ele teria prevaricado por
não me dar uma parte pelos ocorridos. Ou seja, se sabia dos trotes,
não deu parte de ocorrência porque? Por acaso tinha uma simpatia
por mim? Fui ainda mais além, e joguei toda merda no ventilador que
eu sabia, como o caso do Calcinha em Barbacena, durante a NAE, saindo
na “night” e dando idéia em meninas de 20 anos, enquanto estava
com esposa e filho recém-nascido em casa. Fiz infinitas cópias
dessa carta e mandei para todos militares do CN. Acho que na minha
ânsia de justiça, acabei misturando as coisas. Mas tenho a
consciência tranquila que nessa carta não escrevi nenhuma mentira.
O outro motivo da escrita da carta era
servir também de base para o processo. Depois de acessar o documento
sobre a reunião, eu tinha ainda mais certeza que a justiça seria
feita. Mas para podermos construir um caso forte, precisaríamos
desfazer a má imagem que os oficiais haviam descrito no documento
contra nós. Então pensamos e montar um abaixo assinado com a
participação de nossos amigos de turma. Montamos um texto em que
eles assinariam atestando que éramos bons alunos e companheiros, que
não tínhamos graves problemas disciplinares. Mas foi aí que eu
recebi um dos mais duros golpes.
Levamos o documento à Escola Naval.
Cheguei naqueles que eu considerava mais chegados. Afinal, eramos uma
turma, quase irmãos, como todos diziam. Mas é na hora que a bomba
explode que você testa quem é ou não seu verdadeiro amigo. Todos
os meus “irmãos” mai chegados não assinaram o documento, com
medo de sofrerem represálias futuramente. Aquele foi um chute no
saco muito forte na época. Eu lembro que conseguimos apenas algumas
assinaturas de amigos do Rodrigo e do Alan Viana, que não era nem
muito chegado a mim ou ao Rodrigo. Eu sai da EN arrasado. Mas haveria
ainda mais uma experiência que, unida a essa, me fariam mudar
completamente a visão de mundo.
Depois de uns 3 meses nessa batalha,
chegou o round final: o processo chegou à segunda instância e seria
julgado por um desembargador. O mesmo proferiu: “Eu até acho que
vocês estejam corretos e poderiam voltar à EN. Mas se eu permitir
isso, tenho certeza que minha decisão será revertida em instância
superior e, mais do que isso, ainda poderei ser prejudicado por não
votar o que esperam de mim”. Cara, aquela foi a gota d'água.
Qualquer resquício de idealismo que vivia em mim morreu naquele
momento. Cheguei a conclusão que só tinha filha da puta no poder e
que eu deveria jogar o jogo como ele era. Ou seja, não lutar contra
o sistema, apenas jogar o jogo. Ali nascia um lema que na época
achei que era universal: “O mundo é mau”. Eu não acreditava
mais nas pessoas, sempre esperava o pior delas, deixando para fazer
justiça apenas quando eu tinha o poder para fazê-lo.
Hoje considero que a minha leitura
estava equivocada. Ainda tem muita gente boa nesse mundo, eu fui
ajudado por muitas delas no meu caminho, como já até comentei nesse
mesmo post. Mas o fato é que, em instituições em geral, aprender a
“jogar o jogo” continua sendo importantíssimo. Mais do que
competência, no mundo das instituições o fator “relacionamento
pessoal “é o preponderante para definir o quão fácil ou difícil
será sua vida. Ele muitas vezes define quem vai ser promovido ou
não, quem vai continuar na Marinha ou não. Mas foi só depois de
todas essas porradas que eu aprendi isso.
E o momento de colocar toda essa merda
para trás foi esse. Paramos então de pensar em voltar via processo
e focamos no curso. Nesse meio tempo, enquanto ainda estávamos na
batalha, lembro de o Roquette me chamar para conversar: “Renzo, o
que é que está acontecendo? Você é um cara para ser primeiro do
concurso, mas fica com essa merda de Marinha. Quem nasceu para ser
cabeça não vai ser rabo nunca. Vou te contar uma coisa, nessa vida
ou você serve a Deus ou ao Demônio. O que não dá é para servir
aos dois ao mesmo tempo”. Enfim, ainda uso essa parábola até hoje
para mim, ou para outra pessoas, no momento em que estou perdendo o
foco.
Chegava então a hora de estudar sério.
Estávamos sempre na turma 1, mas nunca entre os 25o
primeiros, que tinham acesso a estudo adicional na parte da manhã, o
chamado “clube do bolinha”. Depois de alguns meses, conseguimos
entrar nesse grupo e focamos totalmente no estudo. Nesse período,
fizemos boas amizades no curso: Trancoso, Jac, Raissan, Ingrid,
Papel, Renard, Luis Flavio, Eduardo, Zé, Sérgio, Hélio, Alan,
Leonardo e Leandro Loriato (vulgo Zigoto e Zigotinho...rs). Era um
tempo bacana, mas também de bastante sacrifício.
A fórmula dos cursinhos preparatórios
é muito simples: você estuda muito. Não tem essa de ser
inteligente, de ser um gênio. O processo exige apenas dedicação e
disciplina. E o professor Roquette era, e é, um grande executor
dessa idéia. Ele sempre dizia “Faz o que mando e será aprovado”.
Ou as vezes, em seus famosos discursos aos sábados, antes dos
simulados, ele comparava o estudo ao treinamento de ginástica
olímpica: “Por que vocês acham que a Nadia Comaneci era perfeita?
Ela treinava muito, e treinava os fundamentos. Ó: parada de mão”.
Cara, eu e o Rodrigo riamos muitos desses discursos.
Mais para o fim do ano o ritmo
aumentou. Estudávamos no clube do bolinha das 9 as 11:30, voltávamos
13:30 e só saímos as 21 horas, de segunda a sexta-feira. Aos
sábados estudávamos das 9 ao meio-dia e fazíamos simulados na
parte da tarde. Era cansativo e estressante. Lembro que naquele ano
inteiro, só só sai em apenas 4 fds, para ir tomar umas ou à praia.
Engordei cerca de 15 kilos. Era comum alunos sem muita base terem que
fazer 2 anos de curso para poderem passar no vestibular. Outros não
passavam nem assim, se não levassem a sério.
O período de provas chegou. A primeira
acho que foi da Escola Naval. Acabei ficando nervoso e mandei muito
mal. Depois veio o IME. Nessa eu tinha ido melhor. Fiz também a
UERJ, prestando para bombeiro. Nessa a gente sempre mandava bem,
porque comparada às demais, essa era fácil. Ou como o Roquette
gostava de dizer, limpávamos a bunda com ela...rs. Continuamos
estudando para a última prova, que considerávamos mais difícil: o
ITA. Mas na semana anterior a esse vestibular, era divulgado o
resultado do IME.
Eu, Rodrigo e nossos pais no dirigimos
à Praia Vermelha. Quando saiu o meu resultado, pensei: “fudeu”.
Fiquei em 54o lugar na vaga dos militares. Sendo assim,
apesar de estar aprovado, eu provavelmente não seria chamado, já
que era comum que chegarem apenas até o 45o colocado.
Fiquei feliz pelo Rodrigo, ele passou na EN e no IME. Mas não
consegui ficar animado ao ponto de ir curtir o famoso rodízio no
Porcão com todo mundo que passou, que foi patrocinado pelo grande
mestre Rubião.
Foi engraçado ver o Rodrigo
progredindo tanto, passando nos concursos, e eu não. Isso só
mostrava o quanto a classificação de nossa época de CN não valia
nada, já que eu era oficial aluno e o Rodrigo estava sempre no fim
da lista. Em particular, durante o ano eu já tinha percebido que ele
era mais inteligente que eu. Não sei até que ponto contribui ou não
com a sua evolução. Mas pelo menos eu tinha a sensação de ter
cumprido a minha missão com a Sandra, que era a de fazer ele
estudar.
Mas diferente dele, eu não tinha
passado em nada e já fazia planos para mais um ano de curso.
Cogitava até mesmo me tornar Bombeiro pela UERJ. Afinal, não seria
no ITA, logo o concurso mais temido, que eu passaria. Mesmo assim fui
fazer as provas. Recordo da primeira: física. No ano de 2003 ela foi
bem difícil, deve ter cortado um monte de gente boa. Como eu não
esperava nada daquele concurso, eu estava tranquilo. Levantei a
cabeça no meio da prova, dei uma olhada no sofrimento de todo mundo
e pensei, rindo comigo mesmo “É gente, vocês que estão
disputando essas vagas estão ferrados, essa prova está muito
escrota. Ainda bem que eu só estou aqui me preparando para os
vestibulares do ano que vem”. Ou seja, eu já tinha agasalhado
fazer outro ano de curso, apesar de saber o tamanho desse
sacrifício. Por conta disso, eu saia, como em todas as provas,
rindo. Teve gente, amigo meu, como o Helio, que depois confessou que
quando me via sair rindo, ficava puto, achando que só ele tinha ido
mau. Acredito que eu tenha eliminado alguns concorrentes fazendo
isso...rs.
Acabou a semana de provas, eu foquei em
duas coisas: preparar mais uma excursão para Porto Seguro e armar um
plano para fazer o Roquette no próximo ano. Minha primeira
tranquilidade foi que a Sandra, mãe do Rodrigo, falou que eu poderia
continuar morando lá. A segunda foi que a Denise também me garantiu
a extensão da bolsa.
Contudo, ela me pediu para fazer o
bolsão, pra eu testar como é que estava a prova. Depois de estudar
por um ano, você fica afiado. No bolsão faltou apenas uma questão
para eu fazer 100% de bolsa. Ou seja, realmente aquela era uma prova
bem escrotinha, afinal, eles não podia ficar dando bolsas para todo
mundo. O Roquette me viu saindo da sala o e me chamou: “Renzo, o
que você está fazendo?”. Respondi: “Estou fazendo a bolsa
Roquette, a Denise pediu para eu testar. Além do que, já server
para eu me preparar para ano que vem”. Ele retrucou: “Você não
quer o ITA?”. “Querer eu até queria, mas nem na Esolha Naval eu
passei...”. Então ele profetizou: “Se você não tiver passado
no ITA, eu te contrato de professor aqui do curso.”. Eu ri, e
pensei: “Lá vem o Roquette com o discurso positivista dele. Já
está querendo subir minha bola para eu me motivar para ano que vem”.
Fora isso, levantei com a Denise a
possibilidade de abrir, em conjunto com minha mãe, uma republica
para estudantes de outras cidades. Ela concordou e passamos a
procurar o local. Encontrando uma casa que ficava na mesma quadra do
curso. Ou seja, eu poderia morar ao lado, sem precisar enfrentar a
Avenida Brasil todo dia.
Nesse período pós provas, o Rodrigo
acabou conhecendo a Fernanda, de quem eu acabaria sendo padrinho de
casamento alguns anos depois. Por conta disso, ele desistiu de viajar
para Porto Seguro, na faixa, com todo mundo. Tudo estava programado
para o próximo ano de estudo e eu agora só queria curtir a viagem,
recarregando as energias para o próximo período de sacrifício.
No dia 23 de dezembro estou eu
dormindo, acordo com uns tapas na cara. Abro os olhos, é o Rodrigo.
Eu ia mandar ele se fuder e perguntar que merda era aquela. Mas aí
ele já disse que tinha entrado na internet, que eu havia passado
para ITA! Eu não sabia se ria, se chorava, se dava cambalhota ou se
era um sonho. Fiquei mais que feliz! Não teria que fazer mais um ano
ferrado de curso, iria para São José dos Campos no ano seguinte. Ou
seja, um ano que só tinha dado merda para mim acabava de ficar bom
em seu final. Aquela viagem para Porto foi uma das melhores da minha
vida, aproveitei como nunca.
Mais uma vez o Universo conspirava em
meu favor, me ensinando com duras lições sobre humildade, relações
humanas e perseverança. Mas uma vez minha resiliência, meu
“Querer”, era recompensada.
Enfim, assim termino esse conjunto de
posts: Quando você “Quer”, o Universo conspira em seu favor. E
como muitas vezes escuto em entrevistas, deixo a mensagem para você
que está lendo: não desista de seus sonhos e objetivos. Persista e
trabalhe que as coisas vão acontecer. Pode não ser exatamente como
você espera, mas a caminhada sempre vale à pena e pode ter levar
onde você nunca imaginou. Eu nunca pensei que acabaria me tornando
engenheiro pelo ITA ao começar a estudar para o Naval em 99.
Abs,
Renzo Nuccitelli
6 comentários:
Grande história cara!
Quem merece, e busca, acaba conseguindo!
Acho q ideia que deram de um livro, aprofundando mais nas histórias (incluindo a a viagem hehehe), uma boa.
Agora é continuar aprendendo e ensinando!
Abraço!
Renzo,
imagino que vc esteja aliviado de contar essa saga. Minha história no ITA foi diferente da sua no CN, até pq são escolas bem diferentes, mas a questão de ficar decepcionado quanto ao caráter de membros da instituição foi o mesmo. Até o Reitor do ITA na época (2007), o Reginaldo, mentiu pra mim quando fui conversar com ele a respeito do meu desligamento...resumindo, considerei no momento ele um merda...um reitor, com o CV que ele tem não teria a mínima necessidade de tomar tal atitude, sem falar da Beth, chefe da DIVAL...Abraços e sucesso!!!
Vlw Lipão! Pois é, quem sabe um dia ainda escrevo um livro. Dai fica faltando só ter um filho, porque árvore eu já plantei lá no CTA =D
Fala Renzo,
muito maneira a história, cara. Só faltou dizer que você também acordou minha família inteira em Lambari quando me ligou contando que tinha passado no ITA. Hahahaha.. Minha avó ficou muito feliz e emocionada por você, assim como eu.
Parabéns pelas conquistas e tomara que possamos nos encontrar mais vezes. Ah, e obrigado pela parceria no curso e pelas boas risadas. Minha história foi diferente mas, como você mesmo sabe, repleta de sucessos e insucessos/aprendizados como a sua.
Manda um beijo p/ a sua mãe.
Temos muito orgulho de vocês aqui em casa.
Um abração,
Renard Machado.
Fala Queijinho. Realmente, eu liguei para todo mundo aquele dia, para toda galera do Roquette e até para a Denise.
Pois é meu velho, lembro do teu sonho de ser aviador naval, mas vendo meus amigos na Marinha, acho que no fim das contas foi melhor para vc não ter ido para lá.
Vamos ver se você para de enrolar e marcamos aquela cerveja.
Abs,
Olá, Renzo.
Fui o 1181 da turma de 76 do CN.
Lendo seus posts, fiquei pensando que os oficiais envolvidos na sua saída da MB, refiro-me aos que foram alunos do CN, certamente fizeram coisas tão ou mais graves do que você e seus amigos.
Fico feliz que você tenha aproveitado a "conspiraçãodo universo" e se formado em um centro de excelência em ciência e tecnologia.
Forte abraço.
Rafael
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