terça-feira, 21 de outubro de 2014

Qual história você quer contar daqui 30 anos?


Startup é um assunto que entrou tanto na moda que até novela tem abordado o assunto. Eventos pipocam em todos os lugares. Percebo na comunidade de TI, e até fora dela, a dicotomia: ser assalariado ou abrir uma startup?

Já experimentei os dois mundos. Fui funcionário público, militar, e poderia ter seguido carreira ganhando um salário razoável, com toda segurança e estabilidade. Mas não estava feliz, pedi demissão.

Sai para iniciativa privada e foi fantástico. Aprendi muitas coisas e tudo estava perfeito. Mas a felicidade passou e então então fui picado pela mosca do empreendedorismo. Cheguei abrir um negócio e depois, por fim, acabei me tornando CTO em startup.

Mais uma vez tive um período sensacional. Poder conviver com pessoas incríveis e ter uma autonomia que até então não tinha experimentado. Mas quem já passou por isso sabe que a vida glamourosa é coisa de filme de cinema. Você trabalha ainda mais que assalariado e recebe menos, com a promessa de ficar rico no futuro. A verdade é que realmente deve-se estar apaixonado para seguir nessa vida. Mais do que isso, é necessário fazer as contas para avaliar se realmente a fortuna vai chegar no caso da empresa bombar.

Nesse turbilhão de trabalho várias ideias me ocorriam e não podiam ser colocadas em prática por conta do tempo demandado como CTO. Certo dia toda empresa participou do “Day1”. Esse é um evento onde empresários relatam sua história de sucesso, dizendo qual foi o dia em que perceberam que a empresa iria decolar. Foi um divisor de águas em minha vida.

Na pegada de startup, sempre fomos instigados a pensar na história que gostaríamos de contar em nosso futuro. O intuito era querer mudar o mundo com a startup e ver um propósito maior no que fazíamos no dia a dia. Me lembro de todos meus amigos saindo do evento extremamente motivados e felizes. Sai totalmente desmotivado. Não falei nada para não estragar a alegria alheia.

Mas reparei atento nos palestrantes. Enxerguei um padrão. A maioria contou a mesma história: “Trabalhei muito, sacrifiquei feriados e a convivência com a família para conquistar tudo isso. Agora estou vendendo a empresa para aproveitar, vou recuperar o tempo perdido e aproveitar”. Passei um bom tempo pensando nisso. Eles não me pareciam felizes, pelo menos não da maneira que eu pensaria que estaria no lugar deles. Me perguntei: “Como é que eles vão correr atrás do tempo perdido? Tem gente ali que deve ter filho com 18, 20 anos e não deve ter participado da vida dele. Como se recupera esse tempo?”.

Com um adendo muito importante: ali estavam aqueles que “venceram”. Os “perdedores”, pelo menos no Brasil, não costumam contar história. Imagine esses, que nem sequer com o consolo de uma fortuna contam?!

Nessa mesma época passei a frequentar comunidades de tecnologia e acabei vendo uma palestra do Henrique Bastos que me mostrou uma terceira opção: lifestyle business. Pesquisei, li blogs interessantes, como o do VinicusTelles. Devorei livros sobre o assunto: 4 hour week work, The Incredible Secret of Money Machine.

Durante esse processo de pesquisa e auto conhecimento, não me lembro onde me deparei com a seguinte pergunta: “O que você faria se ganhasse num concurso um salário de R$ 20.000,00 vitalício?”. Por mais simples que essa pergunta possa parecer, demorei certo tempo a responder. Depois de meditar por algum tempo, cheguei em algumas respostas: “Daria mais atenção a minha família, faria exercícios físicos, emagreceria, viajaria, escreveria um livro, leria mais, faria software por diversão, daria aulas”.

O ponto importante de chegar nessa resposta foi a conclusão de que eu não precisava ter uma fortuna. O que eu precisava era do bem infinitamente mais precioso que grana: tempo! Mas a “matrix” não nos deixa ver isso.

Foi então que comecei a me preparar financeiramente para ter tempo livre. Cancelei cartão de crédito, parei de comprar bugigangas inúteis (ex: trocar de celular só porque saiu marca nova). Diminui as contas até um patamar onde apenas com um dia e trabalho por semana eu as honraria. Com um detalhe importantíssimo: esse dia de trabalho é na faculdade, dando aula, que já é/era justamente uma das atividades que eu gostaria de fazer ;). Além disso, para me preparar para o pior caso, o de não poder trabalhar por alguns meses, fiz uma reserva financeira.

Falando assim até parece que tudo é/foi fácil e instantâneo. Confesso que não foi. O cagaço bate, quase desisti.

Mas nesse momento refleti sobre o que de pior poderia acontecer. É engraçado o que ocorre quando você descreve seu medo. Ele deixa de ser aquele monstro perverso que você imagina. Sendo do mercado de TI, sei que ele está extremamente aquecido. Deixando a modéstia de lado, sempre recebi e recebo ofertas de trabalho, de CTO de startup a trabalho assalariado. E isso acontece com todos da área, não é privilégio meu. Logo, o pior que poderia acontecer seria voltar para o mesmo ponto: trabalhar no mercado. Nessa conjuntura, não fazia sentido nenhum não tentar uma nova opção.

Então depois de alguns meses de preparo, desde julho de 2013 passei a viver o chamado lifestyle business. Não existe mais aquela frase “quanto eu tiver tempo faço”. Com tempo livre, bateu a vontade, faço. Como agora que estou escrevendo esse artigo =P.

E assim surgiram várias oportunidades e projetos: Meu livro; Python Birds, curso de Orientação a Objetos com Animação, projetos open source, vídeo aulas gratuitas. Nesse processo, ainda descobri que não era necessário muito dinheiro para viajar. Esse ano conheci Santa Rita do Sapucai, Brasília, Aracaju, Lavras e Goiânia. Em todas elas o custo da viagem foi menor do que eu gastaria ficando em casa! Mas isso é história para outro post.

Esse ano li mais livros do que toda minha vida: 4 hour week work; Contrato Social; Revolução dos Bichos (Animal Farm); A Arte de Estar Sempre Certo: 38 estratagemas; 5 livros Game Of Thrones; Como fazer amigos e influenciar pessoas; O que é Marketing (Raymar Richers). Esses pelo menos que eu me lembre.

O importante, se você leu até aqui, não é ficar imaginando se eu sou doido, corajoso, sortudo, convencido ou qualquer coisa desse gênero. Pelo contrário, não sou e não quero ser exemplo para ninguém. O principal é você saber que existem opções diferentes das “40 horas semanais”. Mais importante ainda é que a opção “startup” pode não ser a mais recomendada para você. Não existe fórmula fechada, as rédeas de sua vida estão em suas mãos.

Então a pergunta que você deve se fazer agora é: “Estou feliz com minha opção atual?”. Se a resposta for sim, viva intensamente a segurança e conforto de seu trabalho semanal; a adrenalina, agitação e desafios de sua startup; os projetos a que você se dedica por conta do tempo livre conseguido com seu lifestyle business.

Agora se a resposta for não, saia da zona de conforto. Pare de culpar os outros por sua infelicidade. Só cabe a você mudar a situação!

Qual história você quer contar daqui 30 anos?





quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A Saga do Sequestro em Budapeste


A Saga do Sequestro em Budapeste

No fim do terceiro ano do ITA os alunos se reúnem na chamada Comissão de Viagens (CV). Seu objetivo é angariar recursos durante o quarto ano para financiar uma viagem técnico cultural dos participantes pela Europa, vulgo mochilão.

Meu amigo Beraba, agora mas conhecido como hacker do Facebook, foi aclamado presidente da comissão. Eu fui diretor da CAPRO, Comissão de Artigos Promocionais.

Depois de arrecadados os recursos, embarcamos cerca de 40 pessoas no sucatão, o Boieng que o Lula desovou para a Força Aérea. Naquele época o voo era fornecido gratuitamente, já aproveitando a viagem para cumprir missão no exterior. Então junto com a tripulação foram várias caixas de peças de avião.

Aterrissamos em Madri e a viagem começou animadíssima. 40 moleques felizes igual pinto no lixo. Todos se organizaram em pequenos grupos. No meu havia 3 pessoas, eu, Jandaia e o Beraba.

Na primeira noite fomos à uma rua de balada espanholas. Lisos como todo estudante, tentamos dar um “Bob Nelson” para entrar de graça. Ali escutamos uma frase de um segurança que devíamos ter levado mais a sério: “No hai nada gratis”.

A viagem prosseguiu e visitamos diversas cidades. Na ordem: Madri, Barcelona, Paris, Amsterdam, Bruxelas, Bruges e Toulouse. Nessa fizemos uma visita muito legal à Air Bus. Se a memória não me falha, vimos um Beluga. Conclui que qualquer coisa com asas voa:


 
Meu cartão de crédito não funcioanva em nenhum lugar. Assim, o Beraba virou meu pai e passou a pagar tudo que era de conta de cartão.

Durante toda a viagem seguimos um ritual. Íamos a um supermercado e comprávamos uma garrafa de Absolut e energético. Essa vodka era mais barata que Smirnof lá. Então uma era finalizada cada dois dias, durante as baladas, passeios e albergues da vida.

Em Toulouse pegamos um voo para Londres. Mas fomos apenas eu o Beraba. Jandaia prosseguiu para a Russia sozinho.

Chegando na Inglaterra ficamos em um dos melhores albergues da viagem, próximo ao Hide Park. Chegamos de noite e tinha somente o dia seguinte para turistar. Nesse dia caminhamos por toda Londres por umas 7 horas. Foi desgastante.

Contudo, ao voltar para o Hostel, nos esperava nosso energético. Resumindo, Beraba bebeu demais e se passou no Hostel. Cedinho tínhamos que pegar um voo para Budapeste. Foi muito legal porque fomos andando pelo parque por conta da ressaca. Nada parava na barriga do “gordim”...kkk. Tenho um vídeo  daquela manhã:



Em toda viagem a gente comia só no Mc Donaldos por conta da liseira. Mas a fama no Leste Europeu era das coisas serem mais acessíveis. Isso e as baladas também. Era um sábado, mas por conta da “enfermidade” do meu amigo, acabamos não saindo naquele dia.

No domingo ele estava um pouco melhor, mas não ao ponto de beber. E eu louco para sair. Naquela pilha toda, acabamos indo em uma balada esquisitíssima. Antes de entrar bebi toda minha parte da vodka, e também a do Reginaldo. O lugar parecia uma construção velha da época da segunda guerra. Na entrada havia umas cortinas de plástico no estilo daquelas de açougue. Dentro tinha uma galera alternativa. Em algumas mesas, havia banheiras em vez de banco para sentar. Mas só tinha cueca lá.

Decidimos voltar para o Hostel. Eu já estava totalmente embriagado. Heis então que brota um húngaro do nada e nos convida para conhecer sua balada. Disse que a entrada era franca e ainda ganhávamos uma cerveja. Deveríamos ter desconfiado. Esmola demais...

Beraba me pergunta se quero entrar. Eu muito doido, falei “Bora”. Pegamos nossa cerveja grátis e ao entrar só tinha um cara no que parecia um porão-bar. Não deu 5 minutos, o Beraba falou para irmos embora porque aquilo estava esquisto. Falei: “Partiu”.

Na saída o caixa falou que tínhamos que pagar a conta. Perguntamos: “Que conta? Só pegamos a cerva grátis e nem ela tomamos inteira!”. Ela então aponta para nossa mesa. Estava cheia de bebidas. Champagne, whisky e algumas outras que não estavam ali 5 minutos antes.

Mal começamos a argumentar e já havia 5 seguranças em nosso redor. Pensei: “a gente vai apanhar muito hoje”. O interlocutar e aparentemente líder do bando era igual o gangster do seriado Nip Tuck. Começa então o bate papo “amistoso”.



O gangster passa a conta pra gente: 300.000 Forentis, a moeda húngara. Eu muito doido, começo a fazer a conta de cabeça e em etapas. 250 Forentis igual a 1 Euro, 2.500 a 10, 25k a 100, 250k a 1000. Parei e disse: “Beraba, faz essa porra dessa conta que eu to doidasso, na minha cabeça está dando mais de 1000 euros!”. Só ouço a reposta “deu 1.2k euros”. Pensei: “Não vamos apanhar hoje, vamos morrer”.

Então a gente começa argumentar, e os caras falando em húngaro entre eles. Pela expressão corporal parecia que ia “azedar” bastante. Entre as ameaças o gangster fala “Se vocês sumirem aqui, ninguém vai nem saber”. Prontamente o Beraba pega meu passaporte, que era de militar, e diz que estávamos em missão. O cara responde num sotaque bizarro “Do you like to play games?” (você gosta de brincar?). “guarde isso agora. Caso contrário, você vai ver o que vai te acontecer”. Acho que o criador de jogos mortais deve ter ouvido nossa história para criar o bordão .

Como todo bêbado é macho, eu digo “Amigo, chama a polícia que a gente paga”. Logo ele responde “This is my city, my police” (Essa é minha cidade, minha polícia). Mas bêbado não desiste da macheza: “Então chama aí”. O cara simplesmente caga pra mim. Cada vez eu tinha mais certeza que nossas vidas estavam próximas do fim.

Vai ameça, vem ameaça. O álcool me dá uma brilhante plano de ação: “Amigo, vou fazer o seguinte: vou te dar toda grana que tenho e a gente fica acertado”. Enfio a mão no bolso. e pego uma nota de 5 Forents, mais umas moedas. Junto tudo em uma mão e dou porrada com a grana no balcão. Eu não lembro da cara do Beraba, mas imagino. O gangster fala: “Are you crazy, are you drunk?” (Você está doido, está bêbado?). A pronta resposta “Lógico que tô bêbado, você não está vendo?”. Ele retruca: “Vou te revistar e se achar alguma coisa você verá o que vai te acontecer”. Cauteloso, eu digo: “Pera aí então que eu to muito doido, deixa eu dar mais uma conferida”. Retiro do meu bolso 50 centavos mais uma manteiga de cacau e dou mais uma porrada no balcão...kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Obviamente o cara ficou muito, mas muito puto. O Beraba diz que eu até levei um “pedala” nessa hora, mas não lembro. Se era para morrer, que pelo menos fosse tirando onda.

Por fim eles surgem com um plano de pagamento. O Beraba iria até o caixa para retirar o dinheiro e eu ficaria de refém no bar-porão. Eu pensei: “Beleza, espero que o Beraba fuja. Com uma testemunha solta, não vão me matar. Como estou anestesiado por conta da cachaça, nem vou sentir as porradas que vão me dar até ele voltar para me buscar”. Não sei porque não falei isso pra ele na hora em português, para ele fugir.

Beraba vai escoltado por um segurança baixinho mais uma mulher. Eu embriagado fiquei enchendo o saco dos que ficaram comigo: “Gente, que vida de merda vocês tem, ter que ficar dando golpe para sobreviver deve ser uma foda”. Bêbado insuportável, eles se afastaram.

Reginaldo volta com seus amigos em 5 minutos, cartão não funcionou. Então eles falam que é minha vez de ir. Mandam o mesmo segurança baixinho e mulher. Meu pensamento foi : “Sou eu então que tenho que fugir”. Morei no Rio de Janeiro e por conta disso meditei: “Pessoal lerdo, mandar um segurança anão e uma mulher só comigo”. Mas vi que ele estava com um casaco preto e com a mão sempre no bolso. Pensei que naquele mato tinha coelho.

Mesmo assim, ao caminhar fui tentando decorar o caminho para resgatar o Beraba caso eu fugisse. Me levaram em uma avenida onde tinha o caixa. Insiro o cartão e ao pedir a senha, olho feio para o segurança. Muito educados, eles viraram de costas para não verem. Pensei: “Se fosse bandido carioca eu já tinha levado uma coronhada e já estavam com minha senha e cartão”.

Mas meu cartão não funcionou em nenhum lugar da Europa, por que iria aqui? Parceiro, a Lei de Murphy é implacável. Saquei o máximo, 100.000 Forents, saiu uma montanha de dinheiro. O segurança diz: “Faltam 200k”. Tento fazer mais um saque no mesmo valor. Consigo! Cartão “fela da puta”. Meu racioncínio: “Os caras já vão ter o dinheiro e nós dois lá naquele porão, não vai ter mais nada pra negociar”.

Então o santo álcool me deu coragem: “Amigo, acabou a negociação. Tenho aqui 200k, que é mais do que você merecem. Eu não vou voltar. Você traz meu amigo aqui e te dou a grana”. O cara fica puto e pega no meu braço para me levar de volta. Dou um tapa na mão delr, fazendo ele me largar. Repito “Acabou parceiro, traz meu amigo e te dou a grana”.

Nisso vem uma mulher andando pela rua. Eu peço: “Me ajuda, esse pessoal sequestrou meu amigo e querem me matar, chama a polícia!”. A mulher saca o celular. O anão segurança late algo em húngaro com ela. Pelo que entendi, deve ter sido algo como “Não se mete ou vai sobrar para você”. Ela me fala que não confia em mim. Eu digo: “Não confia em mim? Maravilha, então chama a polícia!”. Ela se afasta rapidamente.

Mais uma vez sou puxado pelo braço. Mais uma vez repilo com um tapa. Andando na rua aparecem dois adolescentes. Mais uma vez peço ajuda. Eles tentam andar rápido para me despistar. Eu sigo e digo “Eu vou seguir vocês. Eles estão com meu amigo. Se for para eu morrer, vocês irão junto comigo agora”. Cara, eu rio hoje imaginando se esse caras não cagaram na calça.

A corrida maluca segue em frente. Eu atrás dos jovens, o segurança e a mulher atrás de mim. Mas uma vez sou agarrado. Me desvencilho com o velho tapa e digo num tom mais alto: “Me larga”. A mulher responde: “Hei, fala baixo”. Penso comigo: “Falar baixo?”. Junto todo ar nos pulmões e grito o mais alto que já consegui na vida: “HHHHHHHHEEEEEEEEEELLLLLLLLLLLPPPPPPPPPPPPP!!!!!!!!!!!!!!!”. O grito ecoa por toda Budapeste. No finzinho eu fecho olho e aguardo o tiro da pistola que eu achava estar na jaqueta do segurança.

Bom esse post já está enorme nesse ponto, então vou deixar o restante para outro.

Só queria deixar um ensinamento dessa história antes de você ir embora furioso por ter lido até aqui e ter que esperar pelo final:

“No hai nada gratis”. Se te disserem que a entrada é grátis, pergunte quanto custa a saída ;)

Além disso, intimo meu amigo Beraba a escrever a versão dele dos fatos ;)

Grande abraço e até o próximo post!