Após a grande batalha de 2003, em
janeiro do ano seguinte seguimos do RJ para o ITA no meu carro eu,
Alan, Papel e Raissan. Dada minha experiência no Naval, cheguei no
CTA de “guarda alta”, pronto para trotes pesados.
O veterano que nos recebeu foi Átila,
da turma 07. Tudo muito tranquilo, falou que deveríamos escolher um
apartamento, mas que não poderíamos ficar todos juntos, 2 no máximo
por ap. A razão disso era enturmar todos os ingressantes, evitando a
formação de panelas.
Perguntei então sobre a rotina, se
tinha revista no apartamento. Ele respondeu que o apartamento era
nosso e que apesar de o ITA estar em uma base militar, ele não tinha
a rotina de milico. Você não é obrigado arrumar sua cama ou até
mesmo ir a aula. Ao saber disso, pensei: “Isso vai ser uma colônia
de férias”.
Ficamos então eu e Raissam no
apartamento 316. Lá já estava o Reginaldo José, vulgo Beraba, que
recentemente ficou famoso por hackear o Facebook. Depois chegaram o
Thiago (Granola) , Joaquim (Mantega) e Marcelo Gomes (Muskito).
Durante o primeiro mês ocorria a
chamada integração. Durante o período os calouros eram reunidos
para “bostejos”, que são bate papos onde veteranos explicam o
funcionamento do ITA e seus valores. Aconteciam algumas brincadeiras,
mas depois dos trotes do Naval, aquilo era muito tranquilo.
Além disso havia instrução militar
no CPOR. No primeiro ano todos alunos são militares, visando cumprir
o serviço obrigatório. Mas sendo a maioria dos alunos compostas por
civis, ou seja, quem não optou por ser militar no vestibular, as
instruções eram bem suaves.
Apesar de eu achar tudo ótimo, a
maioria dos meus amigos de turma não estava acostumados com as
novidades. Morar sozinho era um desafio. Os apartamentos eram velhos
e com vários problemas. Certa vez chouveu e o esgoto inundou minha
vaga e a do Raissan. Muitos reclamavam do trote. Mas enfim, para quem
morava em alojamento, tinha que arrumar a cama todo dia e ir para
aula fardado, o CTA e o alojamento (H8) eram um paraíso.
Terminado o período de integração
começaram as aulas. Nesse período apenas tínhamos que ir no CPOR
às segundas de tarde. E isso recebendo um salário, não sei como
ainda tinha gente que reclamava. Nesse início mais uma vez boa parte
da turma se frustrou. Alguns professores deixavam a desejar. Por
conta da fama do ITA, a maioria pensava que só existiriam
profissionais espetaculares. Em particular ,eu não me frustrei por
já ter passado o mesmo Naval.
Depois de estudar nessas duas
instituições e conhecer muitos amigos de colégios militares,
cheguei na fórmula das boas escolas:
- Processo seletivo acirrado
- Média de aprovação alta
- Provas difíceis, independente da qualidade do professor
- Regras rígidas, com muitas culminando em desligamento.
A média no ITA é 6,5. São feitas em
geral 3 provas: primeiro e segundo bimestre e mais uma prova final.
Se não atingir a média, o aluno deve fazer segunda época no
próximo semestre e atingir a média. Isso quer dizer que se você
ficou com 6 de média, precisa tirar 7 na segunda época, com 5 é
necessário 8 e assim sucessivamente. Mas mesmo que você atinja a
média na segunda época, há ainda mais uma regra. Se você tirar
menos de 8,5, você fica com o 'I' de insuficiente em seu currículo.
Se durante todo o ITA você acumular mais do 5 Is, você é
desligado. Se você repete maid de suas matérias, você tem que
refazer todos as outras do semestre. Você só pode trancar duas
vezes: uma por nota e uma por saúde. Na prática, em minha época o
pessoal acochambrava para deixar você usar o “continue” da saúde
mesmo que a razão verdadeira fosse nota.
Mas são essas dificuldades e o fato de
morar juntos que faz com que os integrantes da turma sejam muito
unidos. Os mais safos ajudam aqueles com maior dificuldade e assim se
formam amizades para uma vida inteira.
Um valor interessante, herdado das
escolas militares, é muito interessante: a Disciplina Consciente
(DC). Basicamente o conceito pode ser traduzido como honestidade,
praticado através da confiança nesse valor. Como exemplo, é comum
um professor passar provas e não ficar supervisionando a sala. Mais
ainda: dar uma prova para se fazer em casa, com tempo de duração e
sem consulta. Isso cria um ambiente ímpar. Mas como as regras são
rígidas, quebrar esse valor é algo muito sério. Alunos que são
pegos colando são expulsos, apesar de algumas vezes já terem
acochambrado e apenas trancado alunos pegos com a boca na botija. Mas
isso é muito incomum.
Enfim ,o primeiro ano do ITA foi
relativamente tranquilo para mim. A boa base que o Colégio Naval me
deu, mais 1 ano de cursinho Roquette (infelizmente falecido há
poucos dias antes da publicação desse artigo) contribuíram para
isso.
Infelizmente no fim do ano (talvez
tenha sido no segundo ano) o Raissan trancou por conta de notas. Além
disso, estávamos divididos em dois grupos no ap. Granola e Beraba
estudavam e eram regrados. Os outros, eu incluso, tocávamos o
zaralho: vídeo game até tarde, séries de TV, saidões. Por conta
disso, acabamos decidindo por dividir o ap no segundo ano. Mas o
segundo ano fica para um outro post.
Enfim, o ITA é um lugar incrível onde
você encontra pessoas sensacionais, fazendo amizades para a vida
inteira. As regras rígidas, estudo puxado e a DC é fórmula para a
fama da instituição, materializado pelo assédio das empresas para
contratarem os que se graduam na instituição. Além disso, esse
fatores contribuem para a “máfia iteana”. Ela consiste em uma
rede de contatos de ex-aluno que costuma se ajudar, principalmente no
quesito mercado de trabalho.
Enfim, um lugar espetacular que tive o
privilégio de estudar e que aconselho a todos que se interessarem e
estiverem dispostos a pagar o preço exigido pelo foco no estudo.
Nesse ano de 2004 ainda cheguei a ir no
baile da Escola Naval. Foi interessante encontrar os velhos amigos de
Colégio Naval e poder dar a volta por cima. No ano seguinte e também
fui ao baile, com histórias mais interessantes para contar, mas fica
para o próximo post.
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