segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Injeção de Dependência em Java e Python


Aprendi Orientação a Objetos em Java. Inicialmente me foi ensinado a utilizar o construtor para inicializar todas dependências que o objeto necessita para funcionar.
Sendo assim, o código da classe Sorteador é perfeitamente válido:

package di;

public class Sorteador {
    private long limite;

    public Sorteador(long limite) {
        this.limite = limite;
    }
    
    public long sortear(){
        double numero = Math.random()*this.limite;
        return Math.round(numero);
    }

}
Contudo, o problema dessa abordagem consiste na dificuldade de testar o método sortear. Como ele depende de um número aleatório, o máximo que se consegue é verificar se o sorteio se encontra dentro dos limites esperados, conforme código SorteadorTest:

package di;

import static org.junit.Assert.*;

import org.junit.Test;

public class SorteadorTest {

    @Test
    public void testSortear() {
        Sorteador sorteador=new Sorteador(10);
        long sorteio=sorteador.sortear();
        assertTrue(sorteio>=0);
        assertTrue(sorteio<=10);
    }

}
Para contornar o problema, poderíamos componentizar com a finalidade de alterar o comportamento no momento de teste. Com esse objetivo, criei a interface Randomizador:

package di2;

public interface Randomizador {
    double random();

}
Para continuar executando o comportamento original, criei a classe RandomizadorReal:

package di2;

public class RandomizadorReal implements Randomizador {

    @Override
    public double random() {
        return Math.random();
    }

}
Dessa maneira alterei o código do Sorteador . Com essa nova abordagem é possível alterar o componente de randomização utilizando o construtor sobrecarregado. Nessa caso, a dependência do objeto é injetada de fora para dentro. Por isso esse conceito é chamado de “Inversão de Controle” ou também “Injeção de Dependência”:

package di2;

public class Sorteador {
    private long limite;
    private Randomizador randomizador;

    public Sorteador(long limite, Randomizador randomizador) {
        super();
        this.limite = limite;
        this.randomizador = randomizador;
    }

    public Sorteador(long limite) {
        this(limite, new RandomizadorReal());
    }
    
    public long sortear(){
        double numero = randomizador.random()*this.limite;
        return Math.round(numero);
    }

}
Com o código modificado é possível escrever um teste com mais controle. Para isso, basta trocar o componente RandomizadorReal pela classe RandomizadorMock, conforme código a seguir:

package di2;

import static org.junit.Assert.*;
import org.junit.Test;

class RandomizadorMock implements Randomizador{
    public double retorno=0;
    @Override
    public double random() {
        return retorno;
    }
    
}

public class SorteadorTest {

    @Test
    public void testSortear() {
        RandomizadorMock mock=new RandomizadorMock();
        Sorteador sorteador=new Sorteador(10, mock);
        mock.retorno=0;
        long sorteio=sorteador.sortear();
        assertEquals(0, sorteio);
        mock.retorno=0.5;
        sorteio=sorteador.sortear();
        assertEquals(5, sorteio);
        mock.retorno=0.54;
        sorteio=sorteador.sortear();
        assertEquals(5, sorteio);
        mock.retorno=0.56;
        sorteio=sorteador.sortear();
        assertEquals(6, sorteio);
        
    }

}
Esses objetos que se utilizamos para substituir componentes na hora de testes costumam ser chamados de Stub ou Mock. Foi com esses conceitos em mente que migrei para a linguagem Python.

Nela posso escrever classe similar a primeira versão de Sorteador:

from random import random


class Sorteador():
    def __init__(self, limite):
        self.limite = limite

    def sortear(self):
        return round(self.limite * random())
Poderia empregar a mesma técnica para componentizar o método sorteio. Contudo, Python tem uma particularidade interessante: tudo, absolutamente tudo, é um objeto. Inclusive as bibliotecas importadas em um módulo.

Para provar isso, é muito simples. Basta chamar a função dir para inspecionar os elementos do módulo di.py:

>>> import di
>>> [elemento for elemento in dir(di) if not elemento.startswith('__')]
['Sorteador', 'random']
Assim, é possível observar a função random importada como sendo um de seus elementos. Ou seja, bibliotecas importadas em um módulo funcionam como variáveis. Sendo assim, em vez de injetar dependência, a biblioteca alvo pode ser simplesmente alterada na hora do teste:

from unittest import TestCase
import di


class SorteadorTestes(TestCase):
    def teste_sortear(self):
        sorteador = di.Sorteador(10)
        di.random = lambda: 0.5
        sorteio = sorteador.sortear()
        self.assertEqual(5, sorteio)

        di.random = lambda: 0.54
        sorteio = sorteador.sortear()
        self.assertEqual(5, sorteio)

        di.random = lambda: 0.56
        sorteio = sorteador.sortear()
        self.assertEqual(6, sorteio)

De início passei a utilizar essa técnica mas achava que estava fazendo gambiarra. No entanto descobri a biblioteca Mock do Python. Sua função patch serve exatamente para isso, trocar uma biblioteca em tempo de teste por outra. E ela ainda vai além, tomando o cuidado de retornar o componente para seu objeto original após o teste, evitando assim efeitos colaterais indesejados em outros testes.

Enfim, eu gostei muito dessa abordagem distinta do Python. E você o que acha? É gambiarra ou apenas uma forma prática de se fazer Injeção de Dependência?