terça-feira, 26 de novembro de 2013

Participação em Startups

O tema Startup tem surgido muito na imprensa e está relacionado massivamente à empresas de TI com possibilidade de crescimento vertiginoso. Em listas de e-mail ligadas ao assunto é muito comum encontrar diversas pessoas procurando um sócio técnico para desenvolver o produto. É justamente aqui que vou focar esse post, postando sobre a participação em termos de porcentagem. Você pode fazer análise para avaliar um cargo de Diretor de Tecnologia, também chamado de CTO (Chief Technology Officer). Mas a análise é genérica e serviria para qualquer outro sócio.

Para contextualizar, conto um pouco da minha vivência sobre o assunto: eu sempre gostei de empreendedorismo. Depois de 6 meses de formado, trabalhei em cada ano subsequente em uma empresa diferente: uma startup ligada ao setor de saúde, um curso de design e programação web próprio e por último em uma startup do setor de educação. Nessa última, chamada QMagico, fui CTO.

Durante as negociações com o QMagico, e mesmo depois que sai da empresa, já recebi várias propostas para trabalhar em startups. Eu já tinha pesquisado um pouco sobre definição de participação nesse tipo de empresa e em uma dessas ocasiões, decidi colocar em prática uma metologia para calcular minha participação. Como chegar em um valor para uma empresa nascente é difícil, decidi por utilizar o chamado “Custo de Oportunidade” para chegar em minhas conclusões.

De acordo com a Wikipedia, esse conceito pode ser assim definido: “O custo de oportunidade é um termo usado em economia para indicar o custo de algo em termos de uma oportunidade renunciada”. Ou seja, para se chegar em valuation para a empresa que ainda não tem um histórico financeiro a ser analisado, escolhi calcular seu valor de acordo com o custo de oportunidade dos envolvidos, bem como todo investimento que já tenha sido feito (Link para planilha):



Abaixo segue a explicação da planilha.
 

Salario de mercado 

Esse é o custo de oportunidade mensal de um colaborador. Ou seja, quanto se está deixando de ganhar para entrar na empresa. É interessante notar que o trabalho em uma Startup não é igual ao de mercado: Muitas vezes você vai ter que trabalhar muito mais, fazendo “hora extra”, é pago via pro labore + divisão de lucros. Não existe décimo terceiro, às vezes nem férias. Por isso, ao calcular seu salário de mercado, acrescente a ele de 20 a 100%, de acordo com os benefícios que você vai abrir mão.

Salário Startup

Esse é valor que você vai receber durante o período. É subtraído do salário de mercado para se chegar no seu custo de oportunidade mensal.

Investimento Startup

Aqui constam todos os valores investidos na empresa, seja em dinheiro ou material. Esse valor será acrescentado ao valuation da empresa, junto com o custo de oportunidade de todos os sócios.

Vesting

Para fazer jus à sua participação, principalmente se entrar em uma a empresa depois da fundação, é comum aplicarem um período de 5 anos de vesting. Isso visa mitigar os riscos para a startup. Simplificando, se você fizer jus a 20% ao final do período de vesting, você ganharia o mesmo em parcelas de 4% a cada ano. E apenas ao fim do período, o que se chama de período de cliff.

Entendendo as contas

Para se chegar ao valor da empresa, todos os sócios devem calcular seu custo de oportunidade que será investido durante o período de vesting. Sócios que estão há mais tempo devem acrescentar esse período para aumentar seu custo de oportunidade final e, consequentemente, sua participação. Ao custo de oportunidade é somado o valor que cada sócio colocou em dinheiro ou material. Fazendo essa soma, é obtido o valor do Valuation Atual, a partir do qual a participação dos sócios é definida proporcionalmente ao seu investimento.

A célula Custo de Oportunidade, à direita, contém a soma do custo durante o período de vesting, mais o valor que por ventura for investido pelo sócio. Abaixo dela, na célula de equity, consta a participação porcentual do sócio.

Nas células abaixo das mencionadas foi considerado um fator de multiplicação que tem a ver com mesma expectativa de um investidor anjo:  ter seu investimento multiplicado de 10 a 100 vezes no período de 5 anos. Quando eles não enxergam uma saída dessa magnitudade, não costumam investir. Se no plano de negócio a análise não chegar no valor que se espera ganhar, aí talvez não valha à pena participar.

E mesmo quando a análise chegue nesse valor, é recomendável tomar cuidado com os deslumbramentos de empreendedores. Ser ambicioso é bom, mas manter os pés no chão também o é. O site http://dealbook.co contém várias informações sobre operações de investimento e compra de startups brasileiras durante os últimos tempos. Assim, quando vejo previsões de vendas que em apenas 2 anos passam até dos valores pelos quais empresas já estabelecidas, como Buscapé, foram adquiridas, passo a duvidar da qualidade da análise feita.

Conclusões

Existem diversos processos de definição de participação em startups e eu quis mostrar o que para mim faz mais sentido. Já cheguei a discutir isso certa vez quando recebi uma proposta. Com essa mesma análise, tinha chegado à conclusão que minha participação na empresa seria de 33%. Fui contestado, pois me ofereciam 10%. Diziam que a minha pedida “não fazia sentido”. Respondi, então, que me mandassem uma planilha, como fiz, explicando como chegaram no valor de 10%. Obviamente não mandaram, 10% é uma “praxe” de mercado, mas é uma em que não entro de jeito nenhum, pois além do trabalho ser desgastante, raramente vai compensar financeiramente, mesmo que a startup dê muito certo. Segue esse post que fala sobre o assunto:

http://www.financialsamurai.com/2013/10/18/the-startup-riches-myth-selling-for-millions-and-being-rich/

Outra questão é que às vezes, como já aconteceu comigo, se escolhe por trabalhar em uma startup por outras razões: flexibilidade, clima divertido com amigos, oportunidade de tomar decisões ou liderar um time. Todas elas são válidas. Mas mesmo que você decida emocionalmente, fica a dica de fazer uma análise financeira racional, seja pela simples planilha que apresentei ou outra metodologia. Isso o faz entrar no negócio mais consciente.

Enfim, deixe seu comentários e também links interessantes que possam ajudar outras pessoas a pautarem suas decisões.

 Abs,
 Renzo Nuccitelli

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Quanto você Quer, o Universo conspira em seu favor - Parte 6


Algumas vezes o Universo resolve testar a sua resiliência, e foi isso que aconteceu comigo no ano de 2003. Eu terminei o último post dizendo que ao chegar em casa, minha mãe só me apoiou. Mas apesar disso, foi uma noite extremamente mal dormida. Eu simplesmente não consegui assimilar a expulsão.

Mas eu não ia sair sem lutar. Entramos em contato com a Solanger, tia do Bruno, para vermos como seria para entrarmos na justiça. Eu liguei para muitos tinham sido também “licenciados a bem da disciplina”. Os que quiseram participar da empreitada foram: Máximo, Jurandir e o Rodrigo. Engraçado que o último já estava conformado com a situação mas, por alguma razão, ele mudou de ideia e quis entrar também na briga, para minha sorte.

Contamos à advogada o ocorrido e eu tinha certeza que a justiça seria feita. Dois alunos da turma 99, um deles o Ericsson, tinham conseguido reverter suas expulsões por conta de trote violentos um ano antes, e isso nos dava confiança. Afinal, se nem trote era o que tinha nos expulsado, lógico que conseguiríamos reverter a situação. Apesar disso, precisávamos de um plano B.

Foi então que o Jurandir sugeriu fazermos cursinho para escolas militares. Ele tinha comentado que na Tijuca havia pelo menos 4 deles: Planck, Roquette, Ponto de Ensino e PH. Durante o Naval eu tinha pensado em fazer engenharia, então achei uma boa, já que os cursos preparavam para IME e ITA. O problema é que eu não tinha dinheiro para pagar os cursos.

Não bastasse isso, durante aquela semana eu descobriria que também não teria onde morar. Durante o ano de 2002 eu estava indo tanto para a casa da minha tia que passei a ajudar no aluguel. Como não podia mais colaborar no fim mês, seria impossível continuar na minha tia. Foi difícil não poder contar nem com a família num momento delicado.

Mas então começamos a procurar os cursos e fazer provas de bolsa. Conseguíamos no máximo 20% de desconto. Quando íamos conversar sobre a mensalidade e falavam do desconto, eu perguntava quando daria a mensalidade: “Vai ficar apenas R$ 600,00”. Eu fazia sempre o mesmo discurso depois dessa notícia: “Eu fui aluno do Colégio Nava, era o 24o da minha turma. Portanto, vou passar nos concursos, independente de qual seja. Só que ainda não tenho nem lugar para morar no RJ, então não consigo pagar esse valor, o que é possível de se fazer?”. Aí eu sempre ganhava um “super desconto” de 30% ao qual eu sempre ria e falava: “Acho que você pensa que estou brincando quando digo que não tenho nem lugar para morar”.

Mas enfim, ficamos indo e voltando em cada curso tentando descontos maiores. Nesse processo, acabamos encontrando o Haikal, que desde o terceiro ano de CN já tinha decidido fazer IME/ITA. Ele conseguiu uma boa promoção no Ponto de Ensino (PEnsi): ex-alunos do CN pagariam a matrícula e teriam 90% de desconto na mensalidade. Mesmo aquele valor de R$ 60,00 eu não sabia como iria pagar, mas pensei que isso seria o máximo que conseguiríamos. Aquilo foi uma festa. Teve gente que nem era do CN, tinha apenas feito curso Martins com a galera em 99, mas mesmo assim conseguiram também o desconto. Enfim, acho que o PEnsi ainda estava em seu início e devia ainda ter muita vaga ociosa.

Nessa época de negociações eu me aproximei bastante do Rodrigo. Como ele morara longe e eu tinha carro, a gente sempre ia junto procurar pelo curso. Então começamos a frequentar juntos o PEnsi e por conta disso, eu estava dormindo na casa dele. Minha mãe também estava dormindo lá, mas já estava procurando um emprego de doméstica onde dormisse no emprego e, assim, pudesse pagar o meu curso. Vê-la tendo que fazer isso naquele período da vida foi uma barra.

Mas então na quarta-feira recebemos uma ligação da Denise, dona do Roquette. Ela falou que tinha conseguido uma bolsa. Perguntei quanto ficaria, ela respondeu R$ 100,00. Nós tínhamos assistido a uma aula do Roquette, justo a de química do Cesar Pereira e, por conta disso, achávamos que o Roquette era melhor. Mas enfim, o PEnsi estava mais barato. Eu respondi que passaríamos lá no dia seguinte para conversar.

Me lembro que o Rodrigo não queria nem ir no Roquette. Mas eu insisti. Disse que a Denise tinha sido muito legal e atenciosa com a gente, então ela merecia uma satisfação. Na hora do almoço, fomos ao Roquette. Ainda no caminho lembro de conversarmos, em tom de piada: “Já pensou se a gente conseguisse 100% de bolsa no Roquette?” e demos risada. Mas ao chegarmos, a Denise foi direto ao ponto: “Olá meninos, eu tenho uma super oportunidade, vocês poderão estudar no Roquette sem pagar”. Estávamos meio ressabiados com as merdas que tinham ocorrido, então eu falei “100%? não vamos pargar nada? Sem taxa de material, sem mensalidade, nada?”. Ela respondeu positivamente. Mesmo assim, falamos que iríamos pensar, afinal, já estávamos no outro curso.

De noite nos reunimos e conversarmos com nossos pais. A minha mãe e a do Rodrigo apenas falaram para escolhermos o que achássemos melhor, enquanto o pai dele, o seu Gama, achava melhor continuarmos onde estávamos. Nós queríamos ir para o Roquette, mas achávamos sacanagem sair do PEnsi depois de iniciar as aulas. Mas, no fim, não tínhamos assinado nenhum contrato, então acabamos indo para o Roquette. No outro dia já trocamos de curso. Chamamos o pessoal que estava no PEnsi, mas ele preferiram não mudar.

O fato engraçado que fiquei sabendo um tempo depois é que a Denise tem um filho da Marinha que estudou junto com o então Tenente Anselmo, a quem ela conhecia pessoalmente pois os dois eram amigos. Então ela perguntou a ele sobre nós e ele passou nossa “ficha suja”. Ela disse que no contrato que fez com a gente, poderia nos tirar do curso se tivesse qualquer problema disciplinar. Depois de uns seis meses ela conversou de novo com o Anselmo e disse “Anselmo, tem certeza que o Renzo e o Rodrigo era de quem você tinha falado? Os dois estão super bem no curso, nunca deram qualquer problema, realmente não parecem nem de longe os demônios que você falou”. Ele só respondeu: “Vai confiando na carinha de santo deles.”

De toda maneira, pelo menos alguma coisa deu certo nesse período. Mas não foi só isso. Sabendo da nossa situação, a Sandra, mãe do Rodrigo, me chamou para conversar: “Renzo, você vai morar aqui em casa. Mas eu não estou te fazendo nenhum favor, eu sou pragmática. Você vai morar aqui para ajudar o Rodrigo no estudos”. Novamente, depois do Major Romão, pessoas que eu mal conheciam estendiam a mão para me ajudar. Sou muito grato a todos: Roquette, Denise, Sandra e Seu Gama.

Então estava resolvido o plano B, eu moraria na casa do Rodrigo e estudaria no Roquette. Mas paralelo a isso, o processo contra a Marinha seguia. E isso fazia com que não focássemos 100% nos estudos. Em janeiro, tivemos quer ir no CN para pegarmos alguns documentos, principalmente nosso diploma de segundo grau, que seria necessário nos vestibulares. A ideia era também conseguir o Regimento Interno (RI), para podermos pautar melhor nosso processo. Então fomos eu, Rodrigo, Sandra e minha mãe para Angra dos Reis.

Ao chegar lá, o Tenente Serafim nos recebeu em sua sala. Eu falei para ele que precisava de um exemplar do RI do CN, mas ele disse que não poderia nos dar um. Eu pedi então que me emprestasse para tirar xerox dentro da unidade mesmo, ao que ele também respondeu negativamente. Mas então ele saiu da sala, e tinha um RI sobre a mesa. Ficamos na dúvida se ele tinha deixado ali de propósito ou não. O fato é que eu peguei o RI e minha mãe colocou na bolsa. Ela tremia igual vara verde, então eu falei para sairmos e deixarmos o RI no carro (Serafim: depois me manda uma msg se você deixou esse RI lá de propósito ou se você sequer deu falta dele....rs).

Com o documento em mãos, demos continuidade ao processo. Com ele, vários elementos do Conselho de Ensino foram questionados, principalmente no que dizia respeito ao direito de ampla defesa. Dentre as ações que tomamos, uma delas foi pedir a ata da reunião da votação dos oficiais. Foi interessante ter acesso a esse documento.

A ata descrevia que no início do reunião, cada oficial falava sua opinião sobre o aluno. Só depois de ouvir todas, eles votavam. Todos que foram “absolvidos” estavam nessa primeira leva. Mas a partir de um certo momento, mudaram o procedimento: o oficial falava o que pensava do aluno e depois já votava, sem ouvir as opiniões dos demais. Mas o que intrigou a todos foi ver o resultado da votação. Em favor de minha permanência, votaram apenas o Serafim e o Lincolm. Engraçado é que eu não tinha muito contato com o último.

Mas o fato mais intrigante foi saber que o médico Oscar Passos votou contra praticamente todo mundo. Isso porque logo depois da votação, ele tinha falado que achava uma injustiça o que tinha ocorrido e que deveríamos colocar na justiça. Mais do que isso, tinha dito que tinha votado em favor de todo mundo. Eu até hoje não sei a razão disso. Isso porque eu já tinha tido contato com ele, como escrevi em outros posts, e me parecia um cara bacana. Mas mais do que isso, eu acredito em toda filha da putagem no mundo, mas em geral, a “judaria” vem acompanhada de algum ganho pessoal. E nesse caso, o Oscar não tinha nada a ganhar mentindo pra gente. Eu só enxergo duas explicações lógicas para isso:
  1. O documento que tivemos acesso foi forjado, tendo sido alguns oficiais obrigados via assédio moral ou ameaças a assiná-lo.
  2. Realmente o Oscar Passos era o maior duas caras que eu já vi na minha vida. Nesse segundo caso, isso o tornaria pior que o Calcinha, pois esse pelo menos deixava claro o curso de suas ações. Se um dia o Oscar ler esse post, eu gostaria de conversar, por conta da curiosidade, para saber o que houve.

Outras coisas interessantes ocorreram. O Tenente Anselmo disse na reunião que eu era conhecido por dar trotes nos alunos, e que por isso não deveria ir para EN. Enfim, depois de ler esse documento eu fiquei muito puto. Escrevi uma carta com umas 20 páginas contestando todos os pontos que li na ata. Por exemplo, nesse do Anselmo eu contestei, mencionando o RI, que se ele sabia que eu dava trote e não fez nada, ele teria prevaricado por não me dar uma parte pelos ocorridos. Ou seja, se sabia dos trotes, não deu parte de ocorrência porque? Por acaso tinha uma simpatia por mim? Fui ainda mais além, e joguei toda merda no ventilador que eu sabia, como o caso do Calcinha em Barbacena, durante a NAE, saindo na “night” e dando idéia em meninas de 20 anos, enquanto estava com esposa e filho recém-nascido em casa. Fiz infinitas cópias dessa carta e mandei para todos militares do CN. Acho que na minha ânsia de justiça, acabei misturando as coisas. Mas tenho a consciência tranquila que nessa carta não escrevi nenhuma mentira.

O outro motivo da escrita da carta era servir também de base para o processo. Depois de acessar o documento sobre a reunião, eu tinha ainda mais certeza que a justiça seria feita. Mas para podermos construir um caso forte, precisaríamos desfazer a má imagem que os oficiais haviam descrito no documento contra nós. Então pensamos e montar um abaixo assinado com a participação de nossos amigos de turma. Montamos um texto em que eles assinariam atestando que éramos bons alunos e companheiros, que não tínhamos graves problemas disciplinares. Mas foi aí que eu recebi um dos mais duros golpes.

Levamos o documento à Escola Naval. Cheguei naqueles que eu considerava mais chegados. Afinal, eramos uma turma, quase irmãos, como todos diziam. Mas é na hora que a bomba explode que você testa quem é ou não seu verdadeiro amigo. Todos os meus “irmãos” mai chegados não assinaram o documento, com medo de sofrerem represálias futuramente. Aquele foi um chute no saco muito forte na época. Eu lembro que conseguimos apenas algumas assinaturas de amigos do Rodrigo e do Alan Viana, que não era nem muito chegado a mim ou ao Rodrigo. Eu sai da EN arrasado. Mas haveria ainda mais uma experiência que, unida a essa, me fariam mudar completamente a visão de mundo.

Depois de uns 3 meses nessa batalha, chegou o round final: o processo chegou à segunda instância e seria julgado por um desembargador. O mesmo proferiu: “Eu até acho que vocês estejam corretos e poderiam voltar à EN. Mas se eu permitir isso, tenho certeza que minha decisão será revertida em instância superior e, mais do que isso, ainda poderei ser prejudicado por não votar o que esperam de mim”. Cara, aquela foi a gota d'água. Qualquer resquício de idealismo que vivia em mim morreu naquele momento. Cheguei a conclusão que só tinha filha da puta no poder e que eu deveria jogar o jogo como ele era. Ou seja, não lutar contra o sistema, apenas jogar o jogo. Ali nascia um lema que na época achei que era universal: “O mundo é mau”. Eu não acreditava mais nas pessoas, sempre esperava o pior delas, deixando para fazer justiça apenas quando eu tinha o poder para fazê-lo.

Hoje considero que a minha leitura estava equivocada. Ainda tem muita gente boa nesse mundo, eu fui ajudado por muitas delas no meu caminho, como já até comentei nesse mesmo post. Mas o fato é que, em instituições em geral, aprender a “jogar o jogo” continua sendo importantíssimo. Mais do que competência, no mundo das instituições o fator “relacionamento pessoal “é o preponderante para definir o quão fácil ou difícil será sua vida. Ele muitas vezes define quem vai ser promovido ou não, quem vai continuar na Marinha ou não. Mas foi só depois de todas essas porradas que eu aprendi isso.

E o momento de colocar toda essa merda para trás foi esse. Paramos então de pensar em voltar via processo e focamos no curso. Nesse meio tempo, enquanto ainda estávamos na batalha, lembro de o Roquette me chamar para conversar: “Renzo, o que é que está acontecendo? Você é um cara para ser primeiro do concurso, mas fica com essa merda de Marinha. Quem nasceu para ser cabeça não vai ser rabo nunca. Vou te contar uma coisa, nessa vida ou você serve a Deus ou ao Demônio. O que não dá é para servir aos dois ao mesmo tempo”. Enfim, ainda uso essa parábola até hoje para mim, ou para outra pessoas, no momento em que estou perdendo o foco.

Chegava então a hora de estudar sério. Estávamos sempre na turma 1, mas nunca entre os 25o primeiros, que tinham acesso a estudo adicional na parte da manhã, o chamado “clube do bolinha”. Depois de alguns meses, conseguimos entrar nesse grupo e focamos totalmente no estudo. Nesse período, fizemos boas amizades no curso: Trancoso, Jac, Raissan, Ingrid, Papel, Renard, Luis Flavio, Eduardo, Zé, Sérgio, Hélio, Alan, Leonardo e Leandro Loriato (vulgo Zigoto e Zigotinho...rs). Era um tempo bacana, mas também de bastante sacrifício.

A fórmula dos cursinhos preparatórios é muito simples: você estuda muito. Não tem essa de ser inteligente, de ser um gênio. O processo exige apenas dedicação e disciplina. E o professor Roquette era, e é, um grande executor dessa idéia. Ele sempre dizia “Faz o que mando e será aprovado”. Ou as vezes, em seus famosos discursos aos sábados, antes dos simulados, ele comparava o estudo ao treinamento de ginástica olímpica: “Por que vocês acham que a Nadia Comaneci era perfeita? Ela treinava muito, e treinava os fundamentos. Ó: parada de mão”. Cara, eu e o Rodrigo riamos muitos desses discursos.

Mais para o fim do ano o ritmo aumentou. Estudávamos no clube do bolinha das 9 as 11:30, voltávamos 13:30 e só saímos as 21 horas, de segunda a sexta-feira. Aos sábados estudávamos das 9 ao meio-dia e fazíamos simulados na parte da tarde. Era cansativo e estressante. Lembro que naquele ano inteiro, só só sai em apenas 4 fds, para ir tomar umas ou à praia. Engordei cerca de 15 kilos. Era comum alunos sem muita base terem que fazer 2 anos de curso para poderem passar no vestibular. Outros não passavam nem assim, se não levassem a sério.

O período de provas chegou. A primeira acho que foi da Escola Naval. Acabei ficando nervoso e mandei muito mal. Depois veio o IME. Nessa eu tinha ido melhor. Fiz também a UERJ, prestando para bombeiro. Nessa a gente sempre mandava bem, porque comparada às demais, essa era fácil. Ou como o Roquette gostava de dizer, limpávamos a bunda com ela...rs. Continuamos estudando para a última prova, que considerávamos mais difícil: o ITA. Mas na semana anterior a esse vestibular, era divulgado o resultado do IME.

Eu, Rodrigo e nossos pais no dirigimos à Praia Vermelha. Quando saiu o meu resultado, pensei: “fudeu”. Fiquei em 54o lugar na vaga dos militares. Sendo assim, apesar de estar aprovado, eu provavelmente não seria chamado, já que era comum que chegarem apenas até o 45o colocado. Fiquei feliz pelo Rodrigo, ele passou na EN e no IME. Mas não consegui ficar animado ao ponto de ir curtir o famoso rodízio no Porcão com todo mundo que passou, que foi patrocinado pelo grande mestre Rubião.

Foi engraçado ver o Rodrigo progredindo tanto, passando nos concursos, e eu não. Isso só mostrava o quanto a classificação de nossa época de CN não valia nada, já que eu era oficial aluno e o Rodrigo estava sempre no fim da lista. Em particular, durante o ano eu já tinha percebido que ele era mais inteligente que eu. Não sei até que ponto contribui ou não com a sua evolução. Mas pelo menos eu tinha a sensação de ter cumprido a minha missão com a Sandra, que era a de fazer ele estudar.

Mas diferente dele, eu não tinha passado em nada e já fazia planos para mais um ano de curso. Cogitava até mesmo me tornar Bombeiro pela UERJ. Afinal, não seria no ITA, logo o concurso mais temido, que eu passaria. Mesmo assim fui fazer as provas. Recordo da primeira: física. No ano de 2003 ela foi bem difícil, deve ter cortado um monte de gente boa. Como eu não esperava nada daquele concurso, eu estava tranquilo. Levantei a cabeça no meio da prova, dei uma olhada no sofrimento de todo mundo e pensei, rindo comigo mesmo “É gente, vocês que estão disputando essas vagas estão ferrados, essa prova está muito escrota. Ainda bem que eu só estou aqui me preparando para os vestibulares do ano que vem”. Ou seja, eu já tinha agasalhado fazer outro ano de curso, apesar de saber o tamanho desse sacrifício. Por conta disso, eu saia, como em todas as provas, rindo. Teve gente, amigo meu, como o Helio, que depois confessou que quando me via sair rindo, ficava puto, achando que só ele tinha ido mau. Acredito que eu tenha eliminado alguns concorrentes fazendo isso...rs.

Acabou a semana de provas, eu foquei em duas coisas: preparar mais uma excursão para Porto Seguro e armar um plano para fazer o Roquette no próximo ano. Minha primeira tranquilidade foi que a Sandra, mãe do Rodrigo, falou que eu poderia continuar morando lá. A segunda foi que a Denise também me garantiu a extensão da bolsa.

Contudo, ela me pediu para fazer o bolsão, pra eu testar como é que estava a prova. Depois de estudar por um ano, você fica afiado. No bolsão faltou apenas uma questão para eu fazer 100% de bolsa. Ou seja, realmente aquela era uma prova bem escrotinha, afinal, eles não podia ficar dando bolsas para todo mundo. O Roquette me viu saindo da sala o e me chamou: “Renzo, o que você está fazendo?”. Respondi: “Estou fazendo a bolsa Roquette, a Denise pediu para eu testar. Além do que, já server para eu me preparar para ano que vem”. Ele retrucou: “Você não quer o ITA?”. “Querer eu até queria, mas nem na Esolha Naval eu passei...”. Então ele profetizou: “Se você não tiver passado no ITA, eu te contrato de professor aqui do curso.”. Eu ri, e pensei: “Lá vem o Roquette com o discurso positivista dele. Já está querendo subir minha bola para eu me motivar para ano que vem”.

Fora isso, levantei com a Denise a possibilidade de abrir, em conjunto com minha mãe, uma republica para estudantes de outras cidades. Ela concordou e passamos a procurar o local. Encontrando uma casa que ficava na mesma quadra do curso. Ou seja, eu poderia morar ao lado, sem precisar enfrentar a Avenida Brasil todo dia.

Nesse período pós provas, o Rodrigo acabou conhecendo a Fernanda, de quem eu acabaria sendo padrinho de casamento alguns anos depois. Por conta disso, ele desistiu de viajar para Porto Seguro, na faixa, com todo mundo. Tudo estava programado para o próximo ano de estudo e eu agora só queria curtir a viagem, recarregando as energias para o próximo período de sacrifício.

No dia 23 de dezembro estou eu dormindo, acordo com uns tapas na cara. Abro os olhos, é o Rodrigo. Eu ia mandar ele se fuder e perguntar que merda era aquela. Mas aí ele já disse que tinha entrado na internet, que eu havia passado para ITA! Eu não sabia se ria, se chorava, se dava cambalhota ou se era um sonho. Fiquei mais que feliz! Não teria que fazer mais um ano ferrado de curso, iria para São José dos Campos no ano seguinte. Ou seja, um ano que só tinha dado merda para mim acabava de ficar bom em seu final. Aquela viagem para Porto foi uma das melhores da minha vida, aproveitei como nunca.

Mais uma vez o Universo conspirava em meu favor, me ensinando com duras lições sobre humildade, relações humanas e perseverança. Mas uma vez minha resiliência, meu “Querer”, era recompensada.

Enfim, assim termino esse conjunto de posts: Quando você “Quer”, o Universo conspira em seu favor. E como muitas vezes escuto em entrevistas, deixo a mensagem para você que está lendo: não desista de seus sonhos e objetivos. Persista e trabalhe que as coisas vão acontecer. Pode não ser exatamente como você espera, mas a caminhada sempre vale à pena e pode ter levar onde você nunca imaginou. Eu nunca pensei que acabaria me tornando engenheiro pelo ITA ao começar a estudar para o Naval em 99.

Abs,
Renzo Nuccitelli

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Quanto você Quer, o Universo conspira em seu favor - Parte 5


Depois da ascensão e apogeu, só poderia vir a queda.

Após a adaptação comecei a levar a mesma vida do segundo ano. Como havia prometido ao fim da adaptação, eu já tinha tirado o “recalque” com os calouros e não queria saber de problemas.

Apesar disso, muita gente da minha turma acabou sendo expulsa no início do ano por conta dos trotes, como foi o caso do Alfenas e do meu comesa do primeiro primeiro, Vigné.

O Calcinha vinha ditando a nova voga e pelos colegas ficávamos sabendo das histórias de assédio moral. O curioso era que ele resolvia implicar com pessoas que eram relativamente tranquilas. Um dele era o Ricca. Ele nos contou que foi chamado para conversar com o COMCA e ele contou a história dos exército das comcubinas. Em resumo, para conseguir educar um exército de comcubinas, o general cortava a cabeça de uma para ganhar o “respeito” e obediência das outras. Enfim, o cidadão lê “A Arte da Guerra” e acha o máximo pagar mistério para subordinado. Mas enfim, uma característica do sistema que percebi cedo foi que ele premia e promove os que assim agem.

Outro que recebia uma atenção especial era o Teixiera Gama (Rodrigo). Por alguma razão obscura, o Calcinha não o suportava. Ele havia prometido que enquanto ele fosse COMCA, ele não ser formaria. O Rodrigo era um cara tranquilo, a única coisa que você podia falar dele era sua apresentação, não tinha saco para se manter alinhado. Mas como ele havia vários outros, até piores, então porque a preferência? O que descobrimos depois é que o irmão do Teixeira era da turma do Calcinha e eles não se davam. Parecia que o Luiz Antônio estava descontando algum recalque.

Os alunos viviam sendo chamados por ele para prestar esclarecimentos. Em um deles, eu fui chamado. Entro na sala, estava o COMCA e um oficial do quadro auxiliar que não gostava de mim. Foi convidado a sentar e vem a primeira pergunta: “Renzo, sobre trote, o que você tem a dizer?”. Como disse, depois da adaptação eu estava muito sossegado. Mas depois da pergunta, lembrei da adaptação e do episódio com o Biro Biro. Mesmo assim respondi: “Não tenho nada a dizer, senhor”. Aí ele falou para o oficial: “Coloque aí que ele não tinha nada a declarar”. Mas felizmente, o tom da conversa foi suave. Ele havia recebido denúncia de trote e como eu era o responsável pelo alojamento do primeiro ano, ele queria saber se eu tinha ouvido algo sobre a ssunto. Mesmo que eu soubesse, dedo duro nunca fui. Mas era sempre assim as conversas, sempre jogando verde.

Nessa época as mães dos alunos do primeiro ano criaram uma associação: “Associação de Mães contra o Trote”. Elas viviam fazendo denúncias. E quando as faziam, os oficiais perguntavam quem seriam os autores. E muitas vezes meu nome vinha à tona, mesmo eu não fazendo nada, somente por conta de eu ser o responsável do alojamento do primeiro ano. Em uma dessas eu fui chamado pelo Tenente Anselmo para prestar esclarecimentos. Ele falou que uma mãe tinha ligado e falado que eu tinha dado trote no filho dela na terça-feira de madrugada daquela semana. Refiz os meus passos e descobri que no dia eu tinha me machucado no futebol e dormi na enfermaria, com toda a equipe médica de testemunha lá. Enfim, tirando a adaptação, minha consciência estava muito tranquila.

No meio daquele ano, fomos em um churrasco na casa do Tenente Carlos Alexandre, que era responsável pela equipe de futebol. Eu tinha começado a beber no segundo ano e tomei umas cervejas naquele churrasco. Quando retornei ao alojamento, quem estava de serviço era o aluno Anderson, conhecido pelo apelido de Gazela. Ele era famoso por ser meio rebarbado. Aquela era uma quinta-feira e eu estava arrumando minhas coisas para ir embora. Mandei o Anderson ir buscar uma bolsa azul minha, ele acabou trazendo uma maleta. Eu falei “Eu mandei você trazer uma bolsa azul e não uma maleta preta”. 

Ser truculento não era uma característica minha, pelo contrário, eu era parceiro da molecada. Mas o Anderson tirava todo mundo do sério. Acho que ele respondeu alguma coisa que não me lembro e eu considerei que tinha sido rebarbado. Estando meio alto por conta da cerveja, dei um empurrão nele e mandei trazer a bolsa certa. Continuei arrumando minhas coisas.

Então escutei uns barulhos no corredor do alojamento. O aluno que estava de serviço no banheiro estava segurando o Anderson, pedindo para não fazer aquilo. Fui ver o que estava acontecendo e o Anderson estava indo me denunciar ao Oficial-de-Dia. Analisando hoje, ele fez a coisa certa. Mas no Naval daquela época, o que ele estava fazendo era chamado de “spyar”, o que o tornaria um "spy" e sua vida não seria fácil. Eu perguntei se ele realmente queria fazer isso, ele disse que sim. Eu falei para ele fazer então, mas eu era arrogante ao ponto de achar que ele desistiria no meio da caminho.

Dez minutos depois sou chamado pelo Oficial-de-Dia Tenente Anselmo que me pergunta se eu tinha dado um soco no aluno. Respondi que não, que tinha dado um empurrão. Ele falou que não fazia diferença e me mandou ir dormir no alojamento da minha turma naquele dia.

As consequências do ocorrido todo mundo sabia: eu levaria uma parte e seria punido 10 dias de prisão rigorosa após audiência com o Comandante do CN. Por outro lado, a vida do Anderson também deve ter ficado ruim. Como eu tinha ficado parceiro de vários primeiro anistas, alguns deles me confessaram que durante algum tempo eles estavam dando “reunir” durante a madrugada. Reunir consistia em juntar um grupo de alunos. Eles levavam um cobertor, cada um segurava em uma ponta e enquanto o jovem estavam dormindo, o usavam para prendendê-lo na cama enquanto os outro batiam. Eu falei para eles pararem com aquilo, não por que eu achasse isso incorreto na época, mas porque aquilo poderia me prejudicar ainda mais.

Enfim, levei a parte e fui para a audiência com o Comandante Guilherme. Na audiência, ele me falou que meu nome era levantado constantemente em denúncias de trote. Eu disse a verdade, que todas eram falsas e contei o caso de quando fui interrogado pelo Tenente Anselmo. Mas enfim, no oficialato ninguém mais me conhecia como antes, como na época do Tenente Alexandre e Comandante Cardoso Gomes. Como todo já esperavam, levei 10 “rigs”.

E da mesmas maneira que o Universo conspira em seu favor quando você Quer, ele começa a conspira contra quando a auto-confiança se confunde com arrogância. Certo dia eu tinha estava com alergia e tomei o xarope Polaramine. O médico tinha me falado que ele dava muito sono, então coloquei meu nome para que o ronda me acordasse. Ele não me acordou e eu levei 3 detenções por conta disso.

No dia seguinte, mesmas coisa, esqueceu de me acordar. Só que dessa vez eu acordei com o Imediato do Corpo de Alunos acendendo as luzes do alojamento. Eu já estava tão desesperado para não tomar parte que fui para a janela do alojamento. Mesmo sendo o primeiro andar, até o chão deveria ter uns 5 metros de altura. Segurei no cabo do para-raio e desci por ele, indo me esconder na subida da caixa de água.

Naquele tempo estavam acontecendo muitos roubos no alojamento e o Melo não estava encontrando seu ferro de passar. Como a situação já estava ficando insuportável, ele foi falar com os oficiais na sexta-feira, na hora da formatura para liberaração. Todo mundo ficou muito puto com ele, porque isso atrasaria a ida para a casa. Então resolveram revistar as malas dos alunos e em vez de encontrarem ferro, encontraram um monte de carteiras de Marinha com os alunos do primeiro ano. Por fim, o Melo descobriu que tinha colocado o ferro em outro lugar e o pessoal ficou desarrumando a cama dele por umas duas semanas por conta do ocorrido.

Mas as carteiras chamaram atenção e começaram a interrogar os calouros para saber o que estava ocorrendo. Chegaram então à fonte, o Sérgio. Eu e ele fomos os únicos a passarmos no Colégio em Santos no ano de 99, sendo que eu já o conhecia antes, quando fizemos Kick Boxing no Sírio Libanes, clube da cidade. Então o Calcinha empregou sua técnica de coerção, falou para o Sérgio dedurar quem mais estava fazendo comércio a bordo e, caso contrário, a punição dele seria bem pior, possivelmente expulsão.

Então o Sérgio entregou todo mundo envolvido em comércio, desde a adaptação. Na segunda-feira logo começaram a chamar todo mundo envolvido. Como eu disse no post anterior, como era de praxe, eu tinha vendido camisas durante a adaptação e estava esperando a hora de eu ser chamado. Isso seria muito ruim para mim, pois com 10 rigs nas costa, eu não ficaria de conselho no fim do ano. Agora se eu levasse mais 10, a coisa ficaria complicada.

Mas o fato é que ninguém me chamou, depois eu soube que o Sérgio denunciou todo mundo, menos a mim. Mas de toda forma, muita gente tinha sido chamada e eu achava que possivelmente chegariam a mim. Nesse dilema, conversei com o Caldas e depois também lembrei do que minha mãe sempre dizia: “Quem conta a verdade merece perdão”. Então decidi procurar o Tenente Serafim e contar a ele, deixando a decisão sobre o que fazer em suas mãos, na qualidade de único oficial que eu considerava ser integro e justo. Ele estava de serviço e eu contei a ele que tinha vendido camisas. Ele se mostrou decepcionado e falou pra eu me apresentar ao COMCA.

Todo mundo envolvido com comércio estava lá. Ao me ver, o Calcinha perguntou o que eu estava fazendo lá. Eu disse que estava me apresentando por também estar envolvido. Ele mandou eu esperar no corredor com os demais que ainda seriam interrogados.

Entramos na sala um a um e contamos o que fizemos. No meu caso, vendi camisas durante a adaptação. Contudo, o COMCA estava também interessado em saber se tínhamos obrigado os alunos a comprar. Falamos que o comércio sempre ocorreu, mas nunca foi obrigatório, ou seja, contamos a verdade.

Na semana que se seguiu alunos do primeiro ano começaram a ser ouvidos. Reparando que o COMCA estava começando a procurar pêlo em ovo, peguei um exemplar do Regimendo Interno do CN para saber até onde ele poderia ir. Descobri nele que dado um certo acontecimento, você poderia tomar apenas uma parte por ele. No mais, as demais condições deveriam ser lançadas como agravantes ou atenuantes. O lado bom disso é que a penalidade máxima por uma parte seriam 10 dias de prisão rigorosa.

Mas é óbvio que o Calcinha sabia disso também e fez sua cama de gato: me deu 3 partes. Uma por comércio a bordo, outra dizendo que eu tinha brigado os alunos a comprarem e outra que eu nem lembro a razão. Mas aí vem a auto confiança do cara que tinha conseguido tudo até então. Ponderei com ele que aquilo não estava correto, que deveria tomar parte somente por comércio e ele deveria lançar as outras duas como agravantes. Além disso, falei que era para ele lançar o fato de eu ter me apresentado voluntariamente como fator atenuante.

Se eu pudesse voltar na tempo, eu daria um tapa em mim mesmo para dizer: “Acorda Zé Mané”. Um aluno contestando um Capitão de Corveta? Só sendo muito inocente mesmo para pensar que disso poderia sair algo positivo. Mas eu acreditava em justiça, que por mais boçal que um oficial pudesse ser, ele não poderia ir contra às regras. Ledo engano. Obviamente que ele simplesmente cagou na minha cabeça. Me mandou para audiência com o Comandante do Colégio com 3 partes nas costas.

Então eu poderia levar até 30 dias de prisão rigorosa, 10 por cada parte, e isso seria um problema. Acabei levando 13 e assim eu me tornava o recordista de prisões até então com 23, somando as 10 que já tinha levado por conta do ocorrido com o Anderson. Só fui superado já no fim do ano, quando o Rodolfo conseguiu somar 24 rigs.

Comecei então a cumprir a pena. Mas durante ela ocorreria o nosso baile de integração. Era praxe nos anos anteriores os alunos terem a pena suspensa para comparecerem ao evento. Mas não sob a administração do Calcinha. Ao conversarmos com ele, não fomos liberados e, mais do que isso, ele nos falou que a culpa de não irmos era nossa por estarmos no lance.

Mas eu não ia desistir fácil, como disse, a arrogância era muito grande. Me dirigi então ao Serviço de Orientação Educacional (SOE) e conversei com psicóloga Patrícia Pontes. Ela intercedeu junto ao COMCA, mas não obteve sucesso. Apenas como parêntesis, parece que depois os dois tiveram algum envolvimento amoroso. Mas voltando ao assunto, me lembro que o Giacomo também estava preso e sua mãe era advogada. Tentei juntar todos o presos para entrarmos com uma liminar na justiça para irmos ao baile. Os mais espertos falaram que não iam querer entrar nessa, mas mesmo assim eu segui em frente.

A mãe do Giacomo entrou em contato com o Calcinha, mas rapidamente retornou dizendo que era melhor ficarmos quietinhos, que o COMCA era um maníaco. Enfim, perdermos o baile que era um dos melhores eventos do CN. Naquele ano, ele ocorreu na Marina da Glória.

Depois de uma semana de punição, chegou a época da NAE. Depois do ocorrido com o baile, eu sinceramente não queria ir. Isso porque para a competição suspenderiam nossa punição. Achei isso uma tremenda hipocrisia: para o baile não fomos liberado, mas para uma competição esportiva sim. Mas nessa situação, achei melhor participar. Seria uma chance de ganhar alguns pontos de conceito, além de eu adorar jogar bola.

Mas quando a coisa começa a desandar, não tem jeito. No jogo contra a EPCAR, no primeiro lance que recebi uma bola, um meia adversário me acertou uma porrada. Não contente, disse que ia me bater o jogo inteiro. Como bom baixinho folgado, eu falei que duvidava e quando fui marcar ele, pisei no seu calcanhar. Ele ficou muito puto. No próximo lance que recebi a bola ele veio babando. Mas quando eu dei o drible, ele meteu a mão na minha cara. Eu cai e fiquei no chão até ele receber o vermelho. Eu ia continuar deitado, mas o restante do time dele começou a querer me chutar no chão. Recebi cartão amarelo. Enfim, pelo menos um eu expulsei.

Mas então logo depois houve um lance mais ríspido com outro jogador e eu também fui expulso. O Fofão disse que tinha se arrependido em não ter me substituído. Logo no finzinho saiu uma falta pra eles no entrada da área, que foi convertido em gol e logo depois o jogo terminou. O Comandante do CN foi convidado a dar as medalhas e nos cumprimentar. Quando passou por mim, disse que eu tinha que aprender a não perder a cabeça. Ele estava certo. Em vez de eu ganhar pontos de conceito na NAE, acabei perdendo mais ainda.

Voltamos ao CN e continuamos cumprir nossas penas. Uma das coisas que tínhamos que fazer no fim de semana era nos apresentarmos para o café às 8 da manhã. Eu já estava totalmente na merda, então quando era 7:45 eu já estava lá. Teve um dia que o Tenente Fuzileiro Lincolm era quem estava de Oficial-de-Dia, mas ele não veio às 8 horas. Presumo eu hoje que o serviço era coçado e os oficiais davam uma acochambrada, porque era comum eles cagarem o pau assim. Eu tinha pego um livro do Rodrigo, Senhor dos Anéis Completo, para passar o tempo e fiquei lendo lá em baixo até 9 horas, esperando o toque para os presos. Depois de uma hora de espera, chegamos à conclusão que, como muita ocorria, ele não viria mais.

Tomei café, fui para o alojamento e fiquei lendo em uma cama no fim do alojamento, por conta da claridade. Então umas 10:30 ele tocou o sinal para os presos. Mas quando urubu está de azar, o de baixo caga no de cima. Eu não ouvi o sinal e como estava no fim do alojamento, nenhum colega me viu para poder avisar. Quando deu a hora do almoço me avisaram que o Lincoln queria falar comigo. Expliquei a ele ocorrido. Disse que estava lá no horário padrão e ele não, depois fiquei lendo e não ouvi o toque. Ele respondeu “Não interessa, na hora que o sinal toca que você tem que vir”. Cara, eu queria explodir e mandar ele tomar no cu. Mas eu já estava tão anestesiado com as merdas que estavam acontecendo, que disse “Sim senhor, o senhor está certo, a culpa é minha e eu mereço a parte”. Acho que ele ficou com pena e não me deu aquela parte de ocorrência, mas infelizmente na época eu não entendi que essa deveria ser a postura em um ambiente hierárquico como o quartel ou uma empresa. Ou seja, se o seu superior está sendo um babaca, você tem que reconhecer que você está errado e ainda o agradecer por isso. Mas eu ainda precisava levar mais umas cacetadas para aprender isso.

Chegou nosso conceito no fim do ano e o meu foi 1,5 em 10. Isso significava que eu iria para o Conselho de Ensino, onde decidiriam se eu continuaria ou não na Marinha. Todos os anos ele ocorria no fim do ano letivo. Mas não naquele, não esqueça do nosso maquiavélico COMCA Calcinha. Ele marcou o conselho para dia 18 de dezembro, seria feito inclusive depois da nossa cerimônia de formatura, feita na Escola Naval e depois do baile também.

Durante esse baile de formatura, que acho que foi por volta de 15 de dezembro, quando eu conversava com amigos, eu dizia que não sabia se iria para EN por conta do Conselho. Mas todo mundo me tranquilizava, dizendo que eu ia sim, que eu era um cara na marca, que só tinha dado uns vacilos no terceiro ano. Para ser sincero, a minha auto confiança era grande e eu também não tinha dúvidas que iria para a EN. Diferente de muitos, aquilo era o que eu queria para minha vida. Só que a distância entre auto confiança e arrogância é muito pequena.

Minha mãe se ofereceu para ir para Angra comigo para me apoiar. Eu respondi que não precisava, que tudo ia ocorrer bem, eu tinha certeza. Na primeira parte do conselho, nós contávamos nossas vidas para os oficiais do corpo de alunos: COMCA, seu imediato e aos oficiais comandantes de companhia. Assim eu fiz e me lembro de eu dizer mais do que deveria, principalmente com relação ao eu ter pedido à mãe do Giacomo para interceder no caso do Baile. Tudo isso por conta dos verdes que o Senhor Luiz Antônio jogava.

Depois disso, com todos os depoimentos, todos os casos seriam levados pelo COMCA para apreciação de todos oficiais do CN: Comandante, Imediato, Oficial Médico (Oscar Passos), SOE e os demais oficiais da primeira fase. O problema disso era não ter direito a defesa, sendo COMCA a pessoa a fazer o papel de advogado de defesa. Era óbvio que isso só poderia dar merda, realmente eu era muito inocente.

Depois de 4 horas angustiantes, vem o resultado proferido pelo COMCA de forma objetiva (Só não lembro todos os nomes do que safaram): “Alan Viana, Brito e Rodolfo vão para Escola Naval. Os demais, me acompanhem para assinar seus documentos de saída da Marinha”. Cara, meu mundo ruiu naquele momento. Foi uma mistura de sentimento: ódio contra o COMCA acompanhado da vontade de sentar a porrada ou, melhor ainda, um tiro entre os olhos; desespero de não saber o que seria da minha vida e evoluindo até o delírio de imaginar que aquilo era só uma brincadeira e que ele deveria reler a lista, pois meu nome deveria estar lá.

Liguei para casa, avisei minha mãe: “Acabaram de me mandar embora da Marinha”. Meu velho, dizer isso pra ela foi o pior de tudo. A vergonha que eu senti naquele momento foi indescritível. Me senti um merda e ficamos em silêncio no telefone por cerca de 1 minuto. Falei então que ia desligar, ver o que teria que fazer e voltaria para a casa.

Ao chegar na sala do COMCA o Calcinha queria que assinássemos os documentos. O Máximo liderou a revolta, dizendo que não ia assinar pois assim tinha sido instruído por seu advogado. O Calcinha ficou possesso, falou que não interessava porque mesmo não assinando, havia testemunhas, então daria na mesma. O Máximo replicou dizendo que se não tinha diferença, então ele não precisava insistir na assinatura.

Ninguém assinou e arrumamos nossas coisas para retornarmos para casa. Olhando na época e hoje também, a maioria que não foi permitida a ir para EN tinha cometido seu pecados, inclusive eu. Mas sinceramente, duas entraram totalmente de gaiatos: o Rodrigo e o Coxinha. O Caso do Rodrigo eu já comentei. O do Coxinha, seu grande pecado foi não conseguir passar na aptidão física. Só o que ele pediu foi para darem a ele o diploma do segundo grau, nem queria ir para EN. Mas enfim, era o Calcinha quem decidia, então nem preciso dizer qual foi a resposta.

Na viagem, não sei como não bati o carro. Eu ficava pensando em como seria entrar em casa, toda a vergonha na frente da minha mãe e o esculacho que ia levar. Mas minha mãe foi do caralho. Quando cheguei ela só me confortou. No meio tempo, ela contou para o Bruno, aluno da Epcar que eu tinha conhecido 2 anos antes em viagem para Porto Seguro. Ele disse que a tia era advogada e poderia interceder em nosso favor. Enfim, a luta ganharia mais alguns rounds.

Hoje em dia, cheguei em algumas conclusões sobre o ocorrido:

1) Anderson: você era um dos caras mais sãos naquele sistema que gerava uma total inversão de valores. Quando conversamos durante um baile na EN você veio me pedir desculpas. Eu disse que eu que tinha que me desculpar e isso não era demagogia nenhuma, era realmente o que eu pensava e penso.

2) Calcinha: já o agradeci pessoalmente pelo episódio e depois chego nessa parte história. Mas aproveito para agradecer de novo. Não fosse você, eu não teria aprendido a lidar com pessoas, independente de o quão boçais elas sejam, principalmente quando elas tem poder e autoridade sobre você.

Sobre ser expulso, eu penso de duas maneira:

1) No fim eu tive o que merecia por tudo o que fiz durante a adaptação e pela arrogância de não abaixar a crista mesmo quando estava claro que eu ia me ferrar. Nunca eu deveria ter tratado um subordinado como tratei o Anderson.
2) Por outro lado, levando apenas em conta as razões de eu ter sido julgado: empurrar um aluno e vender camisas, chego à conclusão que aquilo foi uma injustiça. Isso seria coisa normal para um jovem de 19 anos e eu era inocente de acreditar que no mundo havia justiça, que as coisas deveria ser feitas da maneira correta pelas autoridade e que todos seriam julgados pela sua competência e seus atos. Me julgaram apenas pelos meus pecados no terceiro ano e não consideraram o trabalho duro que tinha feito nos dois primeiros, quando eu tinha uma ficha disciplinar ilibada.

Mas mais importante que tudo isso, hoje para mim não interessa se foi ou não injustiça, águas passadas não movem moinho e eu aprendi a só extrair bons ensinamentos de tudo que ocorreu.

A continuação dessa história fica para outro post. Por enquanto, coloco algumas fotos do CN da época de terceiro ano.

Abs,
Renzo Nuccitelli










Eu e o Biro Biro.


























sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Instalando servidor Jenkins caseiro

Estou escrevendo esse post para ficar de tutorial para mim mesmo no futuro =D.

Como toda receita, vamos aos ingredientes:

  • Computador, pode ser aquela torre velha que não servia para nada
  • Internet
  • Ubuntu 12.04
  • No-Ip

Modo de preparo

1) Instalando o Jenkins

No Ubuntu, o Jenkins já possui pacote padrão. Portanto, basta rodar o comando

sudo apt-get install jenkins

Inclusive meu amigo Dênis Costa fez uns scripts bacana para já instalar alguns tipos de ambientes:


Se a instalação ocorrer com sucesso, ela criará um daemon que vai rodar sempre que o computador for ligado. Você pode conferir se rodando acessando no seu navegador:


Essa instalação cria um usuário chamado “jenkins” para rodar o serviço, e a home dele se encontra em:

/var/lib/jenkins

Como essa pasta pertence ao usuário jenkins, toda vez que você for alterar, deverá executar as operações como usuário jenkins ou como super usuário.

A instalação via pacote é mais fácil mas, em geral, não contém a última versão estável. Inclusive na página "Manage Jenkins" ele coloca a mensagem de atualização:



Então se você está fazendo uma instalação nova, aproveite para já atualizar. Visite a página do projeto (http://jenkins-ci.org/) e baixe o arquivo jenkins.war:


Após o donwload, pare o serviço do jenkins:

sudo service jenkins stop

Substitua o jenkins.war na pasta:

/usr/share/jenkins/jenkins.war

Reinicie o serviço:

sudo service jenkins start

Acesse novamente localhost:8080. Depois navegue para Manage Jenkins → Configure System. Quando instalei, a atualização era um patch de segurança e por conta disso era necessário atualizar alguns arquivos. Nessa página (Manage Jenkins), existe logo em cima um aviso pedindo para você clicar para ele sobrescrever esses arquivos. Clique no botão para sobrescrever. Feita a atualização, ele pedirá para você conferir o log de atualização (ele mostra um link indicando isso) e se tudo estiver ok, você pode clicar no botão “Dismiss message” para que a mensagem não aparece mais.

1.1 Segurança

Como a ideia é expor o serviço na web, precisamos de um mínimo de segurança. O jeito mais fácil de controlar quem pode acessar o sistema é utilizando o Open Id. Para isso você precisa instalar o plugin. Navegue para:

Manage Jenkins → Manage Plugins e clique na aba Available

Como existe muito plugin, no seu navegador use o Crtl + F e pesquise por openid. Dê um check nele:



Depois clique em “Download now and install after restart”. As vezes o processo de instalação não consegue restartar o jenkins com o plugin instalado. Se for o caso, a dica é rodar o comando para restartar na força bruta:

sudo service jenkins restart

Se a instalação ocorreu com sucesso, você deve navegar para:

Mange Jenkins → Configura Global Security:



Dê um check em “Enable security” e na parte de "Access Control". Selecione a opção "OpenID SSO", colocando o link do Google. Na parte "Authorization", escolha o "Matrix-based security" e acrescente os emails dos usuários autorizados a acessar a aplicação, bem como seus respectivos poderes:


Clique em salvar.

A partir de agora somente usuários dessa matriz acessam o sistema utilizando sua conta Google como login.

Navegue até Mange Jenkins → Configure System. Nessa tela, escolha o seu domínio:



Obviamente que você precisa escolher um domínio que seja seu e que você tenha acesso ao DNS. Cabe notar também duas coisas:

  1. Escolhi o https por ser um protocolo bem mais seguro que http,
  2. Coloquei a porta 8080 e não a default (443). Fiz isso porque se você usa uma internet em casa, a Net bloqueia as portas padrão, por isso você tem que usar outra para poder acessar (Dica que me foi passada pelo Tony Lâmpada, que por sua vez a recebeu do Beraba).
Feito isso, clique em Salvar

1.1.1) Configuração https:

Acesse o arquivo /etc/default/jenkins. Na linha que começa com JENKINS_ARGS, edite para:

JENKINS_ARGS="--webroot=$JENKINS_RUN/war --httpPort=-1 --httpsPort=8080 --ajp13Port=$AJP_PORT –preferredClassLoader=java.net.URLClassLoader"

Em termos de Jenkins, a configuração enfim terminou.

2) Setup No-IP

Como você quer acessar o Jenkins por um nome, no nosso caso https://seu-dominio.com.br:8080 ,a forma grátis, utilizando a sua internet pessoal, é usar o serviço do site http://www.noip.com/. Cadastre-se. Entre no Hosts/Redirects (http://www.noip.com/members/dns/). Ele vai criar para você um domínio bacana na forma seu-usuario.no-ip.biz. Se você não tiver um dominio, você até poderá utilizar esse como padrão. Clique em modify:



Escolha a opção “DNS Host (A)”.

Como o seu ip na Net é dinâmico, você precisa instalar uma aplicação para avisar o no-ip quando ele muda. Para fazer isso, execute os seguintes comandos no terminal (usar sudo se der erro de permissão):

  • cd /usr/local/src/
  • wget http://www.no-ip.com/client/linux/noip-duc-linux.tar.gz
  • tar xf noip-duc-linux.tar.gz
  • cd noip-2.1.9-1/
  • make install

Ao final da instalação, o programa vai pedir o login e senha de sua conta que você acabou de cadastrar no site do no-ip.


3) Configurando o roteador

Se você utiliza um roteador para compartilhar sua internet, você precisa configurá-lo para dar acesso ao seu servidor. Se você usa um, pode pular esse passo.

Acesse seu roteador digitando no navagador 192.168.1.1. Você precisa saber a senha do roteador. O meu é um linksys e eu vou mostrar as telas dele. Se o seu for diferente, você pode procurar na internet como configurar o seu modelo.

A primeira coisa é que seu roteador deve estar atribuindo ip dinamicamente. Assim, ao seu servidor pode ser dado um ip diferente toda vez que for religado. Isso seria um problema, pois você teria toda vez que conferir o ip no roteador e reconfigurar. Alguns permitem a você atribuir um ip fixo para um computador na rede e foi isso que eu fiz. Acessei:


Cliquei em “DHCP Reservation”. Na tela que abriu, chequei o computador que eu queria e cliquei em add clients.





Assim, o ip não vai mais ser alterado pelo roteador. Em seguida, acessei a parte de redirecionamento de porta. Coloquei como porta externa a 8080 e também como porta interna. Coloquei o ip da máquina escolhida (192.168.1.103) e chequei coluna enabled . Depois salvei as configurações.

Para checar se funcionou, você pode usar o site www.canyouseeme.org. Basta escolher a porta (8080 no nosso caso) e clicar em checkport. Se aparecer a mensagem de Sucess em verde, tudo está ok.


4) Configurando seu domínio.

Nesse ponto, você já pode acessar seu Jenkins através da sua url do no-ip: https://seu-usuario.no-ip.biz:8080.

Mas gostaríamos de colocar o acesso através de nosso domínio. Sendo assim precisamos criar uma entrada CNAME no nosso provedor de dns.

Se você, assim como eu, usa o registro.br, acesso o site, clique em no domínio desejado e depois em Salvar e Editar DNS.

Na página em que abrir, clique em +Record, escolha um subdominio (jenkins no caso) e e escolha o tipo CNAME. Na parte dos dados coloquei o endereço do no-ip: seu-usuario.no-ip.biz.



Agora você pode acessar o jenkins através da url https://jenkins.seu-dominio.com.br:8080. Como estamos usando https e nosso servidor não tem certificado, o navegador vai reclamar. Se for o Mozila, clique em "entendo os riscos". Aqui poderíamos tentar colocar um apache para rodar e servir como proxy, e talvez colocar um certificado nele. Se alguém já fez isso (acho que o Tony fez) me mande o link que eu coloco aqui no post. Para mim não foi um problema adicionar a exceção de segurança.


Conclusão

O objetivo foi atingido: foi possível utilizar aquele computador que estava jogado as traças para fazer um servidor de integração contínua em casa, utilizando a sua internet pessoal. Houve alguns problemas: é necessário colocar https:// e acrescentar a porta no final da url e por conta do certificado, o servidor reclamar. Mas enfim, fiquei satisfeito com o resultado.

Com esse setup agora eu posso, junto com o Dênis, acessar o Jenkins remotamente, até mesmo do celular, para poder demonstrar um deploy com um clique em nossa palestra sobre entrega contínua(http://www.slideshare.net/RenzoNuccitelli/python-brasilentrega-contnua ) sem sobrecarregar a rede do evento (isso quando ela existe ;D)

Espero que vocês tenham gostado desse quitute que preparamos na receita de hoje. Entrem em contato, sugestões são sempre bem vindas.

Abs,
Renzo Nuccitelli


PS: MOMENTO REVOLTA: Ei Net, vai tomar no toba! Procurei saber sobre o bloqueio de portas e dizem que é por questão de segurança. Mas aí acho um link no reclame aqui: (http://www.reclameaqui.com.br/3775039/net-tv-e-banda-larga-virtual/porta-80-bloqueada-para-conexoes-entrantes/). Ou seja, se pagar por um ip fixo, aí pode desbloquear a porta 80, não tem problema com vírus?. Enfim, sei que com isso eles querem evitar que você utilize uma conexão doméstica para servir um site. Mas se eu pago pela velocidade, simplesmente deviam liberar. Pode deixar que eu tomo conta do vírus no meu próprio pc.

Assim se cria uma oportunidade para se ganhar dinheiro em cima da babaquice de uma empresa. A próprio no-ip consegue fazer um proxy reverso para você, permitindo acesso na porta 80 ou 443. Basta pagar e fazer a configuração: http://www.noip.com/support/knowledgebase/getting-started-with-no-ip-com/. O preço fica em 14,95 doletas. Afinal, ser extorquido para ter que fazer um net empresas de mais de R$ 200,00 é o fim da picada: (http://www.reclameaqui.com.br/774534/net-tv-e-banda-larga-virtual/venda-de-ip-fixo-por-9-00-adicionais-na-fatura/). Olhá aí a maravilha de letra miúda dizendo que planos de 10 e 20 mega não incluem ip fixo: http://www.netcombo.com.br/empresas/banda-larga.

Enfim, fica um link que recebi do Luciano Ramalho que aborda bem o assunto, indo ainda mais além: http://terramagazine.terra.com.br/silviomeira/blog/2013/10/28/liberdade-dinheiro-neutralidade/ #marco-civil-internet