Há 5 anos eu era troll de lista de discussão por e-mail. Percebi então que eu perdia um tempo precioso com isso e que não obtinha nada de positivo. Pelo contrário, acabava fazendo inimizades.
Por conta disso, passei a me policiar. Meu primeiro algorítimo para evitar o problema foi o seguinte: toda vez que eu terminava um e-mail ou mensagem, antes de clickar em “enviar” eu me perguntava: “Alguém, inclusive eu, tem algo a ganhar com o que estou escrevendo?”. Quando a resposta era não, eu simplesmente apagava o e-mail. Eu diria que apenas com isso deixei de ser um troll, passei a enviar 90% menos e-mail e raras vezes entrei em discussão.
Exemplo do algorítimo: certa vez estavam reclamando do Brasil, dizendo que no exterior era muito melhor. Entrei na discussão: Ou você mudava para onde era melhor, ou ficava no Brasil entendendo que as coisas eram diferentes, deixando de reclamar em ambos casos, pois odeio choradeira de quem não toma ação para mudar a situação. Teve gente que concordou e ponderou sobre o assunto. Ou seja, realmente ajudei alguém com a opinião. Mas houve gente que disse que eu estava errado, que era direito reclamar, desabafar e protestar. Comecei a escrever a resposta, ressaltando a inutilidade do “mimimi”. Ao final me fiz as perguntas. Conclui que ninguém ganharia nada. O cidadão que queria desabafar no e-mail apenas ia ficar mais puto consigo e comigo. Quem tinha já concordado e ponderado sobre o que disse não se influenciaria com a opinião em contrário. Resultado: mais um e-mail inútil que não enviei.
Voltando à reflexão, o processo de escrita de e-mail de resposta em si era importante. Era o tempo necessário para eu destilar o “ódio” adquirido durante a leitura da discussão. Porém, isso tomava tempo. Então melhorei o algorítimo. Após ler a discussão e ficar com raiva, eu me perguntava: “Por que estou com raiva disso? No que isso afeta minha vida? A raiva existe apenas por que a opinião é diferente da minha?”. Então quando chegava à conclusão que aquilo na afetaria minha vida ou, principalmente, minha raiva advinha apenas de minha prepotência de achar sempre estar certo e o outro errado, simplesmente a raiva ia embora e sequer um e-mail de resposta eu escrevia. Conclui que se todo mundo pensasse igual, o mundo seria muito chato. Entrei assim no modo Zen, onde deixei de entrar em na maioria de discussões que não levam a nada e passei a realmente a tentar entender pontos de vista diferentes dos meus. A leitura do livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas” também me ajudou muito nesse quesito.
Exemplo do novo algorítimo: há certo tempo um cidadão postou uma piada taxada de machista no grupo de Python do Facebook. Houve discussão acalourada, com um lado defendendo o banimento do membro e o outro defendendo liberdade de expressão, julgando a piada domo não sendo machista. Li a discussão. Cada lado já tinha esgotado os argumentos, não havia nada a acrescentar. Ninguém estava preocupado em entender outro lado, apenas querendo provar que sua opinião era a correta. Então se eu emitisse a minha, seria apenas mais um entrando na torcida e, talvez, me indispondo com o pessoal. E tem pessoas que gosto de ambos lados. Então não participei da discussão e preferi focar no que cada um dos envolvidos tem de bom. Em vez de discutir o sexo dos anjos, fui gravar uma vídeo aula para meu canal. Em um minuto esqueci a discussão e fiquei muito mais feliz, pois considerei ser muito mais útil ajudar as pessoas uma aula que ser apenas mais um torcedor. Obs: não estou julgando quem entrou na discussão. Cada um é livre para ser feliz da maneira que julgar mais adequada ;).
Por fim, existia apenas um problema no algorítimo: como definir qual discussão vale à pena entrar? Em qual discussão posso ajudar alguém com minha participação? Encontrei a resposta a reposta no livro “A Arte de Estar Sempre Certo” do Schopenhauer.
Em sua introdução consta, com minha tradução livre: “Em um mundo ideal a discussão e debate deveria almejar a verdade ou ao menos o entendimento mútuo, um acordo. Em tal mundo o desejo de cada pessoa bem intencionada seria identificar os objetivos que valem à pena e os melhores meios de atingi-los, onde as pessoas se esforçariam para resolver os problemas através da cooperação, superando desentendimentos e conflitos.
Mas o mundo é tudo menos ideal, e as pessoas buscam não a verdade, mas ganhar argumentos; elas não buscam o melhor para todos, mas somente o melhor para elas mesmas. Para a grande maioria das pessoas o interesse pessoal é mais forte motivador que altruísmo e, como resultado, elas buscam quaisquer meios para colocar seu nariz à frente na corrida de competição que é a vida”.
No transcorrer do livro, o autor passa então e descrever 38 falácias lógicas que as pessoas usam para ganhar argumentos. Ele alerta que o objetivo não é você usar para influenciar os outros, mas sim para se livrar deles em uma discussão. Mas do que isso, para você poder distinguir os discursos que buscam a verdade daqueles dos quais não vale à pena participar. Leia o livro e assista um debate político. Será extremamente engraçado vê-los utilizando todos os estratagemas, dos mais simples aos mais rebuscados...rs
Dessa maneira, venho aprendendo a identificar discussões infrutíferas e, ao fazer isso, utilizar o ensinamento do Dalai Lama: “É muito difícil argumentar contra o silêncio”.
E você, o que acha do assunto? Será que vou ajudar alguém? Essa é minha intenção. Mas se ele gerar discussão inútil, tenha certeza que não participarei ;)
Grande abraço.