Startup é um assunto que entrou tanto
na moda que até novela tem abordado o assunto. Eventos pipocam em
todos os lugares. Percebo na comunidade de TI, e até fora dela, a
dicotomia: ser assalariado ou abrir uma startup?
Já experimentei os dois mundos. Fui
funcionário público, militar, e poderia ter seguido carreira
ganhando um salário razoável, com toda segurança e estabilidade.
Mas não estava feliz, pedi demissão.
Sai para iniciativa privada e foi
fantástico. Aprendi muitas coisas e tudo estava perfeito. Mas a
felicidade passou e então então fui picado pela mosca do
empreendedorismo. Cheguei abrir um negócio e depois, por fim, acabei
me tornando CTO em startup.
Mais uma vez tive um período
sensacional. Poder conviver com pessoas incríveis e ter uma
autonomia que até então não tinha experimentado. Mas quem já
passou por isso sabe que a vida glamourosa é coisa de filme de
cinema. Você trabalha ainda mais que assalariado e recebe menos, com
a promessa de ficar rico no futuro. A verdade é que realmente
deve-se estar apaixonado para seguir nessa vida. Mais do que isso, é
necessário fazer as contas para avaliar se realmente a fortuna vai
chegar no caso da empresa bombar.
Nesse turbilhão de trabalho várias
ideias me ocorriam e não podiam ser colocadas em prática por conta
do tempo demandado como CTO. Certo dia toda empresa participou do
“Day1”. Esse é um evento onde empresários relatam sua história
de sucesso, dizendo qual foi o dia em que perceberam que a empresa
iria decolar. Foi um divisor de águas em minha vida.
Na pegada de startup, sempre fomos
instigados a pensar na história que gostaríamos de contar em nosso
futuro. O intuito era querer mudar o mundo com a startup e ver um
propósito maior no que fazíamos no dia a dia. Me lembro de todos
meus amigos saindo do evento extremamente motivados e felizes. Sai
totalmente desmotivado. Não falei nada para não estragar a alegria
alheia.
Mas reparei atento nos palestrantes.
Enxerguei um padrão. A maioria contou a mesma história: “Trabalhei
muito, sacrifiquei feriados e a convivência com a família para
conquistar tudo isso. Agora estou vendendo a empresa para aproveitar,
vou recuperar o tempo perdido e aproveitar”. Passei um bom tempo
pensando nisso. Eles não me pareciam felizes, pelo menos não da
maneira que eu pensaria que estaria no lugar deles. Me perguntei:
“Como é que eles vão correr atrás do tempo perdido? Tem gente
ali que deve ter filho com 18, 20 anos e não deve ter participado da
vida dele. Como se recupera esse tempo?”.
Com um adendo muito importante: ali
estavam aqueles que “venceram”. Os “perdedores”, pelo menos
no Brasil, não costumam contar história. Imagine esses, que nem
sequer com o consolo de uma fortuna contam?!
Nessa mesma época passei a frequentar
comunidades de tecnologia e acabei vendo uma palestra do Henrique Bastos que me mostrou uma terceira opção: lifestyle business. Pesquisei, li blogs interessantes, como o do VinicusTelles.
Devorei livros sobre o assunto: 4 hour week work, The Incredible
Secret of Money Machine.
Durante esse processo de pesquisa e
auto conhecimento, não me lembro onde me deparei com a seguinte
pergunta: “O que você faria se ganhasse num concurso um salário
de R$ 20.000,00 vitalício?”. Por mais simples que essa pergunta
possa parecer, demorei certo tempo a responder. Depois de meditar por
algum tempo, cheguei em algumas respostas: “Daria mais atenção a
minha família, faria exercícios físicos, emagreceria, viajaria,
escreveria um livro, leria mais, faria software por diversão, daria
aulas”.
O ponto importante de chegar nessa
resposta foi a conclusão de que eu não precisava ter uma fortuna. O
que eu precisava era do bem infinitamente mais precioso que grana:
tempo! Mas a “matrix” não nos deixa ver isso.
Foi então que comecei a me preparar
financeiramente para ter tempo livre. Cancelei cartão de crédito,
parei de comprar bugigangas inúteis (ex: trocar de celular só
porque saiu marca nova). Diminui as contas até um patamar onde
apenas com um dia e trabalho por semana eu as honraria. Com
um detalhe importantíssimo: esse dia de trabalho é na faculdade,
dando aula, que já é/era justamente uma das atividades que eu
gostaria de fazer ;). Além disso, para me preparar para o pior caso,
o de não poder trabalhar por alguns meses, fiz uma reserva
financeira.
Falando assim até parece que tudo
é/foi fácil e instantâneo. Confesso que não foi. O cagaço bate, quase desisti.
Mas nesse momento refleti sobre o que
de pior poderia acontecer. É engraçado o que ocorre quando você
descreve seu medo. Ele deixa de ser aquele monstro perverso que você
imagina. Sendo do mercado de TI, sei que ele está extremamente
aquecido. Deixando a modéstia de lado, sempre recebi e recebo
ofertas de trabalho, de CTO de startup a trabalho assalariado. E isso
acontece com todos da área, não é privilégio meu. Logo, o pior
que poderia acontecer seria voltar para o mesmo ponto: trabalhar no
mercado. Nessa conjuntura, não fazia sentido nenhum não tentar uma
nova opção.
Então depois de alguns meses de
preparo, desde julho de 2013 passei a viver o chamado lifestyle
business. Não existe mais aquela frase “quanto eu tiver tempo
faço”. Com tempo livre, bateu a vontade, faço. Como agora que
estou escrevendo esse artigo =P.
E assim surgiram várias oportunidades
e projetos: Meu livro; Python Birds, curso de Orientação a Objetos com Animação,
projetos open source, vídeo aulas gratuitas. Nesse
processo, ainda descobri que não era necessário muito dinheiro para
viajar. Esse ano conheci Santa Rita do Sapucai, Brasília, Aracaju,
Lavras e Goiânia. Em todas elas o custo da viagem foi menor do que
eu gastaria ficando em casa! Mas isso é história para outro post.
Esse ano li mais livros do que toda
minha vida: 4 hour week work; Contrato Social; Revolução dos Bichos
(Animal Farm); A Arte de Estar Sempre Certo: 38 estratagemas; 5
livros Game Of Thrones; Como fazer amigos e influenciar pessoas; O
que é Marketing (Raymar Richers). Esses pelo menos que eu me lembre.
O importante, se você leu até aqui,
não é ficar imaginando se eu sou doido, corajoso, sortudo,
convencido ou qualquer coisa desse gênero. Pelo contrário, não sou
e não quero ser exemplo para ninguém. O principal é você saber
que existem opções diferentes das “40 horas semanais”. Mais
importante ainda é que a opção “startup” pode não ser a mais
recomendada para você. Não existe fórmula fechada, as rédeas de sua vida estão em suas mãos.
Então a pergunta que você deve se
fazer agora é: “Estou feliz com minha opção atual?”. Se a
resposta for sim, viva intensamente a segurança e conforto de seu
trabalho semanal; a adrenalina, agitação e desafios de sua startup;
os projetos a que você se dedica por conta do tempo livre conseguido
com seu lifestyle business.
Agora se a resposta for não, saia da
zona de conforto. Pare de culpar os outros por sua infelicidade. Só
cabe a você mudar a situação!
Qual história você quer contar daqui 30
anos?